sábado, 2 de fevereiro de 2008

À MARGEM - Falando de Livros



Não alinho na generalização do elogio. Por norma, nos meros apontamentos de leitura que, neste espaço, tenho deixado, só falo em livros a que, no meu insignificante conhecimento, atribuo valor (e, importa referir, há trabalhos sobre os quais me não pronuncio porque, por um motivo ou outro, não li ou a temática me ultrapassa, e poderiam caber, sem qualquer favor, neste sítio. É claro que os autores, dessas obras, e das outras, em nada ficam prejudicados, pois a minha opinião é irrelevante).
Algumas publicações, ora pelas expectativas criadas, quer pelos projectos em que se filiam, fazem recair sobre elas uma maior exigência, um rigor de apreciação mais apurado. É o caso dos livros que, no âmbito da “Terra Rica da Humanidade”, o Município de Ponte de Lima está a editar. Convenhamos que são ambiciosos, com tempo disponível para a sua preparação exíguo, envolvendo múltiplas disciplinas e abrangendo uma imensidão de temas e possibilidades de opções e, recordemos, os responsáveis foram alertando para previsíveis escolhos. Das duas obras já apresentadas, fica-me a percepção de que está a valer a pena o risco, apesar de algumas falhas, principalmente de rigor histórico, discordância quanto à selecção e tratamento de alguns assuntos, quase meros exercícios de publicidade ou louvor de edificações ou iniciativas de discutível valor e menor utilidade, e o vislumbrar, em certos casos, a tentativa de esconder a magreza ou os defeitos de investigação com uma excessiva roupagem laudatória, correndo o risco do ridículo e fazendo entrar no mesmo barco aquilo que se pretende evocar. Mas estas divergências, claro, cabem no direito à minha subjectividade e, por isso, de muito discutível interesse.
Um pouco à margem, na borda, permito-me mais algumas reflexões, suscitadas, não pelas obras ou o seu valor – a que, se souber e puder, voltarei mais tarde (sem esquecer que tinha prometido uma apreciação ao primeiro dos livros publicados) – mas por conceitos, a pretenderem fazer escola, que no decorrer da sua apresentação me pareceram ter estado subjacentes, e que refiro, por comodidade e por palavras que apenas a mim responsabilizam, como “a exclusão dos “velhos”” e “o afastamento ou o apoucamento dos locais”.
A exclusão dos “velhos”. Sem discutir a legitimidade de critérios, e muito menos a bondade e qualidade das escolhas, creio que, quando se trata de saber, ele está onde está, independentemente de idade e formação académica, e é aí, se quisermos a valorização, que o devemos procurar.
O afastamento ou o apoucamento dos locais (embora algumas tristes decisões, recentemente anunciadas, possam levar, os mais incautos, a conclusão inversa). Creio, sem novamente pôr em causa a legitimidade de outros critérios e escolhas, que deveria ser obrigação dos municípios o aproveitamento integral dos conhecimentos dos seus pátrios. Inexistindo estes, a quem obviamente não devem ser concedidas facilidades, então, sim, recorrer a saberes alheios. Mas quando os locais são ignorados por completo, em muitos casos com grave prejuízo para os temas tratados, é a nossa identidade que se vai esvaecendo, a afectividade que se dilui, o potencial de desenvolvimento que sai prejudicado.
Espero ter entendido mal, no que concerne a “exclusão dos "velhos"” e “ao afastamento ou apoucamento dos locais”, que assim não seja.

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