
Um dos mais conseguidos poemas de amor em que o religioso casa com o profano, com elegância, respeito e assinalável mestria. Deve-se a Teófilo Carneiro (1891-1949), um ponte-limense de saber e sentir, um alto espírito que esta terra, feita de um pedaço perdido do paraíso ou do Parnaso, viu nascer:
Meio dia de Abril. O sol a pino
Abraça com volúpia a natureza...
Ouve-se rir, ao longe, a voz dum sino...
É mais alegre a gente portuguesa!
Ressuscitou o filho de Maria,
Abrem as rosas brancas nos rosais
E tudo canta e sente a aleluia
Que pulsa e freme em torno dos casais!
Há pelo azul aromas perturbantes,
Em cada boca rubra ardem desejos
E o meu amor – a de olhos hesitantes –
Pede carícias longas, pede beijos!
Ressurreição divina! Aleluia!
Soa mais alto o nome do Senhor!
- Ah! Não ser eu o filho de Maria
E tu a mãe de Cristo, meu amor!...
[publicado, originariamente, no jornal Democracia do Lima de 16 de Abril de 1922, com edição recente em “Poesia e outros dispersos”, Carneiro, Teófilo, Introdução, fixação do texto e notas de J. Cândido Martins, Opera Omnia, 2006]
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