segunda-feira, 28 de agosto de 2023

AS FEIRAS NOVAS EM 1855 (HÁ 168 ANOS)

 


AS FEIRAS NOVAS EM 1855 (HÁ 168 ANOS)

 Apesar de Portugal também ter sido atingido pela epidemia de cólera, o que, por exemplo, provocou a proibição da realização das feiras de Nossa Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, na data habitual, Ponte de Lima, fruto da diligência dos mesários da Irmandade de Nossa Senhora das Dores,” Srs. Silva, Rocha e Pereira Pinto”, junto ao Governador Civil do Distrito de Viana do Castelo, Visconde de São Paio dos Arcos, conseguiu autorização para a realização das feiras anuais de 19, 20 e 21 de Setembro.

  E, com dias quentes e noites frias, muita gente, “principalmente na noite do fogo” e pouco trabalho para o médico-cirurgião Monteiro (só “foi chamado para ver um homem, que tinha levado um coice”), uma feira do gado “ animadíssima” e uma de “bestas muito concorrida”, com a presença “dos costumados capelistas, quinquilheiros, ourives, etc.”, e, grande novidade nesta área, a montagem de “duas lojas de fato feito”.

“ O fogo do ar foi sofrível; porém o preso é forçoso confessar que apresentou vistas tão variadas e de tão bem combinadas cores que faz muita honra ao artista que o fez.“ Reparo só mereceu a hora tardia dos mesmos: “Rogamos aos incansáveis oficiais da irmandade… que para o ano tomem o chá mais cedo para nos aviarem mais depressa, pois sem dúvida o fogo deve principiar-se a lançar-se a hora mais honesta.”

 Nos festejos estiveram as Bandas do Regimento de Infantaria 3 de Viana do Castelo (“a qual tocou muito, e com muito gosto, como sempre costuma: porém no teatro [D. Fernando] foi ela excelente. Recordaremos sempre com saudade a noite de 21 de Setembro de 1855 pelos trechos das óperas do Atila e Trovador que com tanto mimo executou a referida banda”) e a dos Artistas limarenses, que também tocou no “circo equestre”.

Fontes:

Jornal A Razão, Valença, ano de 1855 (de onde se extraíram, com grafia modificada, todos os “ ”).  

Relatório da Epidemia de Cholera-Morbus em Portugal nos anos de 1855, e 1856, feito pelo Conselho de Saude Publica do Reino, Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1858 (segundo este relatório, no distrito de Viana, em 1855, só Viana do Castelo e Caminha foram atingidos tendo a doença provocado 138 mortos (77 em Viana e 61 em Caminha).

Crédito da Imagem:

Fotografia do Álbum de Antero Frederico Ferreira de Seabra da Mota e Silva, divulgada por João Gomes d’Abreu (Ontem-Hoje – Vista geral da Vila de Ponte de Lima em 1858, Arquivo de Ponte de Lima, 1986), que a data de 1858. Sem dúvida obtida em dia de feira, mostra-nos uma Ponte de Lima semelhante ao que seria em 1855 (talvez, com a mais visível diferença de a Torre dos Grilos, à entrada da ponte, do lado da vila, ainda não ter sido começada a demolir, o que, segundo Miguel Roque dos Reys Lemos, Anais Municipais de Ponte de Lima, aconteceu em 1857 e 1858.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

As primeiras marchas no S. João de Ponte de Lima

 

                                         
 

No S. João, que durante muito tempo foi a principal festividade na vila de Ponte de Lima, como participação popular organizada, aos “bailes” sucederam os “ranchos” e depois destes, e ou com estes, as “marchas” que como novidade surgiram em 1955. O jornal Cardeal Saraiva anunciava que “tudo se prepara para dar às festas deste Santo o maior entusiasmo”…”marchas populares, com prémios, arraial com iluminações a electricidade, e ornamentações a cargo de Bernardo Barreiros, de Guimarães, e vistoso fogo de artifício. …”
E terá sido assim mesmo, de acordo com o referido jornal “a concorrência foi o que se pode chamar muito invulgar… além dos números já conhecidos de anos anteriores, todavia este ano bem melhores, houve o cortejo de carros e ranchos folclóricos dos nossos três bairros… “e devemos frisar que qualquer dos bairros agradou imenso pelo imprevisto e colorido das suas marchas…” os carros “do Pinheiro: «Castelo», «Camões», «Varinha de Condão», «Caramanchão» e «Artilharia»; Arrabalde: «Moinho», «Caravelas», «Carro das Damas», «Jardim da Madalena» e «Espadeladeiras»; Além da Ponte: «Pelourinho», «Anjo da Guarda», «Pedreira», «India Portuguesa» e «Princesa» ….”
Depois, em Agosto, se revelava que “conforme classificação oportuna, foram assim distribuídos os prémios referentes a estes interessantes grupos: 1.º Prémio – Rancho do Pinheiro; 2.º - Rancho de Além da Ponte e 3.º - Rancho do Arrabalde.”
Fonte: diversos números do ano de 1955 do jornal Cardeal Saraiva.
Ilustração: recriação de postal da alameda e capela de S. João em Ponte de Lima.
Nota. publicado anteriormente na página do facebook, a 27 de Junho de 2022.

terça-feira, 13 de junho de 2023

1923 (HÁ CEM ANOS) – OS SANTOS POPULARES EM PONTE DE LIMA

 


1923 (HÁ CEM ANOS) – OS SANTOS POPULARES EM PONTE DE LIMA

 

S. ANTÓNIO

1.1 – Lugar de Crasto – Ribeira (dia 13 de Junho)

1.2 – Refoios (dia 13 de Junho)

1.3 – Fornelos (dia 13 de Junho)

1.4 – Vitorino de Piães (dias 16 (?), 17 de Junho)

1.5 – Igreja de Santo António da Torre Velha – Arcozelo (dia 17 de Junho)

 

S. JOÃO

2.1 – Ponte de Lima (dia 23 e 24 de Junho)

 

S. PEDRO

3.1 – S. Martinho da Gandra (dias 28 e 29 de Junho)

3.2 – Bairro de Além da Ponte – Arcozelo (dia 29 de Junho)

 

SANTO ANTÓNIO

Sendo o dia 13 em quarta-feira, realizaram-se (pelo menos foram anunciadas) festividades na Ribeira, Refoios e Fornelos. Em Vitorino de Piães e Arcozelo preferiram os festejos no fim-de-semana.

1.1.RIBEIRA

“No vizinho e pitoresco local da Cruz de Pedra”, “grandes festas ao taumaturgo Santo António”, com, na capela da Cruz de Pedra, missa solene acompanhada a órgão e vozes pelas meninas da creche da vila, sob a regência de Augusta de Araújo Lima, desafio de futebol, banda de música de Moreira do Lima, arraial com iluminação, bazar de prendas, descantes populares ao desafio, grande cascata, representação da comédia, em um acto, «O Actor e seus vizinhos» desempenhada por um grupo de amadores da freguesia.

 

1.2.REFOIOS

Com toda a solenidade e a participação da Banda dos Artistas (Vila).

 

1.3.FORNELOS

Solenidades religiosas, sermões, pelo Abade de Sandiães e pelo Abade de Argela, Caminha, arraial com o concurso da Banda de Cabaços, procissão, fogo-de-artifício.

1.4.VITORINO DE PIÃES

Grande arraial com iluminação, fogo e música e representação do drama de Santo António, solenidades religiosas, procissão, continuação do arraial com descantes populares, música e repetição do drama de Santo António, etc.. Tocou, durante o dia, a banda de Cabaços.

1.5 ARCOZELO

Igreja de Santo António da Torre Velha, “do bairro de Além-da-Ponte”, de manhã solenidades religiosas, de tarde sermão e procissão. Tocou, durante o dia, a Banda dos Artistas de Ponte de Lima.

 

S. JOÃO

2.1. PONTE DE LIMA

Embora organizada fora da responsabilidade da Irmandade, que assumiu a direcção dos festejos a S. João, era prometida, para o dia 24, “uma magnífica tourada”. Não se confirmou.

Certo é que no dia 27 de Maio se procedeu ao costumeiro “içamento da bandeira de S. João, com muita assistência, queima de foguetes, descantes populares, e a participação da Banda dos Artistas de Ponte de Lima que, feita a cerimónia, liderou cortejo por várias ruas tocando o hino do Santo, para satisfação de muito povo.

A 15 de Junho tiveram início, na sua capela na alameda, as novenas. A 23, um sábado, sendo juíza “a simpática menina Albertina Rodrigues da Silva Caridade, filha do abastado proprietário da freguesia de Vitorino das Donas…Sr. Manuel Rodrigues da Silva Caridade…e juiz o menino Manuel de Faria Sampaio, filho do …Sr. Adelino Ribeiro Sampaio, digno presidente da Comissão Executiva da nossa Câmara Municipal”…, tiveram arranque os festejos.

Os dois jornais da terra, o Cardeal Saraiva e o Rio Lima, ambos então semanários e publicados ao domingo, não saíram nesse dia 24, mas, regressados a 1 de Julho, não deixaram de relatar os festejos. Mais ironia, no Cardeal Saraiva, mais descrição, no Rio Lima. Sabemos, pelo segundo, que o fogo-de-artifício era do Sr. Cálon, de Ponte da Barca, as bandas de música dos Artistas de Ponte de Lima, dos Arcos de Valdevez e a de Cabaços, que a procissão tinha muitos anjos e o sermão foi proferido pelo pároco de S. Paio de Jolda, Arcos de Valdevez, que os bailes «A Esfolhada» e dos «Camponeses» tiveram na organização António José Linhares e José Narciso Vieira, e que na garraiada se distinguiram o cavaleiro José Lisboa e o bandarilheiro Artur Cunha. O primeiro, embora afirme que “correram brilhantíssimos os festejos”, e “o fogo e as iluminações agradaram muito”, escreve que “os bailes deixaram muito a desejar, a procissão regular, o desafio de futebol [Sport Club Triângulo Negro, de Ponte de Lima – Sport Club Nun’Alvares, de Ponte da Barca], devido ao calor, não se chegou a concluir, a garraiada, com garraios, talvez fosse brilhante… a respeito de pegas os bois pegaram regularmente nos respectivos forcados, finalmente, tudo correu bem: não houve desastres, nem roubos, nem coisas parecidas.”

Uma semana depois, na sua gazetilha, o Pai-Paulino (Malafaia Neto)), “recorda” a garraiada: “Em honra do S. João/ Na nossa praça de touros,/ A suarem como mouros, / Os destemidos caixeiros,/ Fizeram a garraiada:/ Deram terra p’ra feijões. / Corrida e trambolhões/ Sempre alegres, presenteiros. // Zé-Lisboa mui garboso. / Montado no seu Alter, / Espanou, como se quer,/ Toda a poeira da arena;/ Vermelho como um tomate/ O Joaquim, do Morais/ Deu até saltos mortais/ Para agradar á pequêna// O Artur fez belos câmbios,/ Lorôto pegou de lado/ O Lôpo foi volteado/ Os passes foram p’ro Cunha/ O que a todos fez pasmar,/ Até o mesmo animal, / Foi o caso original/ Dum Rato pegar á unha.//Só três bois foram lidados,/ Os outros, com muita graça,/ Limitaram-se a ver a praça/ Qu’os diestros deixam franca,/ E diz-se, pela calada,/ Que lá foi todo o sabão/ P’ra lavar num caldeirão/ As manchas da roupa branca…”

 

S. PEDRO

3.1. S. MARTINHO DA GANDRA

O correspondente do jornal Rio Lima (A. Caldas) noticiava que em “S. Martinho da Gândara…uma das aldeias mais belas do nosso Minho… um grupo de rapazes resolveu festejar… o Santo Claviculário da Corte Celestial.” Escrevia que “já há três anos... se vem realizando esta festividade…” fazendo também parte da comissão “a senhora D. Conceição Paiva e seu irmão Sr. Albano Paiva“ andam estes a “ensaiar um engraçado baile que se exibirá por ocasião daqueles deslumbrantes e grandiosos festejos”.

   Mais tarde, o jornal Cardeal Saraiva resumia o programa: “solenidades religiosas, grande arraial com 3 bandas de música, cascata, iluminações, descantes ao desafio, fogo-de-artifício”. O mesmo jornal, em posterior número, confirma que o S. Pedro “foi ruidosamente festejado”.

3.2. ARCOZELO

Festejos com “cascatas, música, quermesse e outros números de atracção”.

...

Nota: A informação, baseada em relatos ou publicidade, em alguns casos é incompleta, só anuncia, e não permite, com rigor, confirmar algumas das iniciativas mencionadas.

Fontes principais: jornais Cardeal Saraiva e Rio Lima

Crédito da Imagem: Recorte de capa da autoria de Alfredo Cândido, da revista Brasil-Portugal, n.º 202 – 16 de Junho de 1907.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

VACA DAS CORDAS E CORPO DE DEUS HÁ 100 ANOS (1923)

   A grande novidade e expectativa estava na realização, impulsionada por comissão, liderada pelo prior da vila, Monsenhor António Pereira Lima (Ponte de Lima, 24 de Outubro de 1852 - 16 de Fevereiro de 1930), “amigos de fazer ressuscitar a tradição no que ela tem de característico e bom”, da procissão do Corpo de Deus, outrora famosa em Ponte de Lima e que diziam ir reaparecer “com todo o aparato e esplendor igual ao que a revestia há uns bons 50 anos”. 
 Assim, nesse ano, à Vaca das Cordas, que apesar das suspensões e faltas de ambas terá prosperado como parte integrante desses festejos, voltava a velha companhia. 
 E depois de na tarde de o dia 30 de Maio ter ocorrido “o antigo divertimento da vaca das cordas”, em que “como de costume houve muitos sustos e correrias mas felizmente nenhuma nota discordante”, às 17.00 horas dessa quinta-feira, 31 de Maio, cumpriu-se o prometido. Pelas “ruas de S. José, Torre de S. Paulo, Passeio Cândido dos Reis, Avenida 5 de Outubro, ruas de Agostinho José Taveira, João Morais, Norton de Matos, Largo Dr. António de Magalhães, ruas Vieira Lisboa, D. Leonel de Lima, Boaventura José Vieira, Pe. Francisco Pacheco, Largo 13 de Fevereiro, rua do Rosário, Praça de Camões, Largo de S. José, rua da Abadia e Largo da Matriz”, ornada por “todas as irmandades da vila e de grande número das freguesias circunvizinhas, os párocos do concelho, com as respectivas cruzes paroquiais, S. Jorge com o seu estado-maior, carros das ervas, Boi Bento e S. Cristóvão conduzido por oito barqueiros num andor”, decorreu a procissão do Corpo de Deus. 
 “Durante o dia” tocou “ a banda dos nossos Artistas” e, na vila, “notava-se um desusado movimento que maior seria se o tempo não se apresentasse de mau cariz” 
 Em apreciação doutrinal, Carlos de Passos, em texto datado desse dia (31.05) e publicado no jornal Rio Lima, de 3 de Junho, entre outros considerandos, afirma que “uma excelente lição de civismo deu hoje ao país a vila de Ponte de Lima: e seus representantes, a municipalidade, merecem-lhe os melhores louvores [então, na comissão executiva estavam Adelino Ribeiro Sampaio (presidente), Francisco Pereira Campos (Vice-presidente), José Mendes da Costa Júnior, Avelino Guimarães, Raúl Pimenta… vereadores]: “mas quando os homens da ordem presente d’um modo nobre, dignamente rasgado, dão sua companhia à procissão, menosprezando falsas concepções e falsos temores, não se compreende que os vencidos tão triste prova de firmeza e isenção moral-religiosa dessem de si. Quantos faltaram, quantos amarelos, oportunistas, os temperados do dizer faceto de Camilo? ..." . 

Fontes principais: jornais Cardeal Saraiva e Rio Lima, d/nºs, ano de 1923.


 Crédito da ilustração: pormenor de fotografia incluída no Almanaque de Ponte de Lima, 1923 (A tradição Taurófila do Lima, Conde de Aurora) e recorte de cartaz de exposição do Museu dos Terceiros – Ponte de Lima.

quarta-feira, 3 de maio de 2023

FIGURAS LIMIANAS DE RICARDO FERREIRA

 


FIGURAS LIMIANAS

DE RICARDO FERREIRA

 

As Figuras Limianas, de Ricardo Ferreira, são o seu espelho de recordação. Quando, em 2014, o Ricardo me informou que iria começar a revelar os seus trabalhos intuí (que é forma resumida de afirmar que já, de há muitos anos, conhecia o seu gosto artístico) a sua terra, recriada pelas suas mãos em labor de risco e cor, a ser favorecida. A sua presença nas redes sociais, as exposições realizadas, para surpresa de muitos, vieram confirmar a sua marca.

Agora, de forma mais persistente, pinta personalidades ligadas ao seu berço, em mescla de história e memória. Figuras de quem se habituou a ouvir falar, sobre quem foi lendo e aprendendo, mas, também, outras figuras notáveis com quem ainda conviveu. E é tudo isto, com a grandiosidade, generosidade e visão ampla que a distância permite, que o Ricardo Ferreira nos mostra.

                                                                                                                       
                                                                                                                                             José Sousa Vieira