domingo, 25 de novembro de 2012

SENTIMENTO DO POEMA


Amândio Sousa Dantas, bardo do sentimento de ausência, nome relevante no canto da diáspora, neste implícito e justo preito ao seu irmão, Luís Dantas (1946-2011), rompe a distância e faz-nos aproximar, de forma comovida, ao sentimento do (seu) poema.

   O sentimento é, também, desgosto e, neste colecto, o autor liberta o dos seus poemas que, exposto, mostra que a adversidade não é, necessariamente, um rol de soturno. Deixa, quão expressão, a compreensão do efémero e, coabitando, a do seu reinvento (uma espécie de ressurreição reservada ao comum humano): talvez, a grande ómnia que nos permite viver para além do ómega; criar apesar da dor.

     O viver faz-nos o caminho, dá-nos e tira-nos afectos, derruba e erige as nossas convicções, torna-nos permeáveis ou estanques a diferentes estímulos, deixa-nos calar ou expandir os sentires corporais e emocionais: enfim, para o bem ou para o mal, o viver vai-nos mudando. E é o viver de Amândio Sousa Dantas, o seu apego à literatura (no próximo ano o seu primeiro livro completa 3 décadas de existência, mas a sua presença neste labor recua muito mais no tempo) a força vital que lhe permite suportar e contar o infortúnio com tanta limpidez, em registo diverso daquele a que a sua vasta produção nos acostumou, numa lírica valiosa a ultrapassar o íntimo sem o disfarçar, universalizando-o enquanto fruição estética e mensagem ética.
         
     E, assim amparado, o sentimento do poema ajeita-se para acolher outros sofreres que, dele partindo e não o negando, chegam a diferentes reverenciados, de qualquer época, conquistando a intemporalidade, o almejo de toda a criação.

       Sendo Sentimento do Poema* um livro de evocação, quase sempre, não é um livro triste, pois quando a pulcritude veste as palavras a amargura vai ficando nua.

* A obra merecia uma melhor revisão.


   

Sem comentários: