Amândio
Sousa Dantas, bardo do sentimento de ausência, nome relevante no canto da
diáspora, neste implícito e justo preito ao seu irmão, Luís Dantas (1946-2011),
rompe a distância e faz-nos aproximar, de forma comovida, ao sentimento do
(seu) poema.
O sentimento é, também, desgosto e, neste
colecto, o autor liberta o dos seus poemas que, exposto, mostra que a
adversidade não é, necessariamente, um rol de soturno. Deixa, quão expressão, a
compreensão do efémero e, coabitando, a do seu reinvento (uma espécie de
ressurreição reservada ao comum humano): talvez, a grande ómnia que nos permite
viver para além do ómega; criar apesar da dor.
O viver faz-nos o caminho, dá-nos e
tira-nos afectos, derruba e erige as nossas convicções, torna-nos permeáveis ou
estanques a diferentes estímulos, deixa-nos calar ou expandir os sentires
corporais e emocionais: enfim, para o bem ou para o mal, o viver vai-nos
mudando. E é o viver de Amândio Sousa Dantas, o seu apego à literatura (no
próximo ano o seu primeiro livro completa 3 décadas de existência, mas a sua
presença neste labor recua muito mais no tempo) a força vital que lhe permite
suportar e contar o infortúnio com tanta limpidez, em registo diverso daquele a
que a sua vasta produção nos acostumou, numa lírica valiosa a ultrapassar o
íntimo sem o disfarçar, universalizando-o enquanto fruição estética e mensagem
ética.
E, assim amparado, o sentimento do poema
ajeita-se para acolher outros sofreres que, dele partindo e não o negando, chegam
a diferentes reverenciados, de qualquer época, conquistando a intemporalidade,
o almejo de toda a criação.
Sendo Sentimento do Poema* um livro de evocação, quase sempre, não é um
livro triste, pois quando a pulcritude veste as palavras a amargura vai ficando
nua.
*
A obra merecia uma melhor revisão.
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