terça-feira, 23 de abril de 2013

LIMIA - O Río do Esquecemento




José Sousa Vieira

O mar
absorve-me o olhar.

Prefiro o rio Lima:
deixa-me, sempre,
outra margem…


     O livro, edição da Associação Cultural Civitas Limicorum de Xinzo de Limia, Limia –  Río do Esquecemento, reúne textos e imagens, actuais e do passado, num percurso de 148 páginas onde convergem o mito, a história, a poesia, o afecto e a crença, num caudal de autores dos dois lados de um mesmo rio: o Limia/Lima.
     Silvia Dopazo, Antón Rivero Coello, Delfín Caseiro, Francisco Domínguez Romero, Carlos Gómez Salgado, Antón Tovar, Xosé Benito Reza, Federico Cocho, Álvaro Conqueiro, Florentino Cuevillas, Otero Pedraio, Vicente Risco, Suso Vaamonde, Carlos Casares, Cláudio Lima, Diogo Bernardes (numa composição atribuída a Luís de Camões, em compreensível lapso que, durante muitos anos, vários especialistas repetiram), António Feijó, Antonio Balboa Salgado, Luís Romero Becerra, Xosé Carlos Caneiro, Xose Lois (Carrabouxo), Mariana Carballal, Luís Otero, Conde de Bertiandos*, Carlos Rocha, Amândio de Sousa Vieira, Almada Negreiros, entre outros, são os afluentes que engrossam esta obra de memória e homenagem, de canto e de encanto.
     Num namoro fascinante entre o sentimento (as artes) e a razão (as ciências) esta colectânea, coordenada por Carlos Gómez Salgado, quiçá familiar distante do limarense António Feijó que reivindicava parentela original galega, é uma oportuna lembrança, um grito de memória que atravessa os tempos e nos desperta para as virtudes e vicissitudes deste curso de água, fluido mestre do Vale do Lima, corpo inteiro da nossa identidade geográfica e afectiva.
     Todos o sabemos. O río/rio Limia/Lima não tem um percurso uniforme, nem corre livremente. Para além das dinâmicas naturais que ao longo da sua vetusta história o foram mudando, a mão do homem, com maior ou menor acerto, tem-se dele servido, alterando-lhe o curso e a corrente, a fauna e a flora, modificando-lhe as condições morfológicas e climatéricas, introduzindo-lhe barreiras construídas que o tentam moldar aos seus interesses e necessidades, e nem sempre com o respeito e equilíbrio que a partilha e a sobrevivência do nosso planeta aconselhariam.
    É certo, ao crescimento demográfico e à crescente capacidade do homem em utilizar os recursos naturais tem correspondido, com maior evidência nos últimos anos, uma melhor consciência ecológica, traduzida em algumas medidas tendentes a proteger os recursos, encontrar alternativas mais equilibradas, melhorar a intervenção humana, recuperar, se e quanto possível, claros dislates que o desconhecimento e a ganância foram fazendo. Mas, e até aproveitando as recentes lições colhidas do colapso da infalibilidade da organização económico-financeira que regia a sociedade ocidental, é necessária maior e mais eficaz intervenção. É que de boas intenções está a legislação ambiental cheia, faltando, demasiadas vezes, os mecanismos para a tornar efectiva.
     E o rio Lima, mais precisamente a sua Bacia Hidrográfica, é a principal riqueza do Vale do Lima português. Todos os projectos de desenvolvimento para a região deveriam ter essa constatação como axioma, a sua protecção como doutrina, o seu aproveitamento equilibrado como cerne. Não só por se tratar de uma das regiões de Portugal de melhores recursos hídricos, mas, também, ninguém o ignora, porque a água potável será o centro das preocupações humanas futuras e estamos todavia em condições de melhorar, na nossa região, a sua qualidade e adequado aproveitamento.
     Até por isto a oportunidade desta obra que em Xinzo de Limia teve nascente a 28 de Novembro de 2008, aportando a Ponte de Lima, vila irmã, a 11 de Janeiro de 2009, trazendo consigo as gaitas (Banda de Gaitas de Xinzo de Limia) que, desde meninos, nos acordavam para a festa e as vozes (Coro Santa Mariña) num linguajar a que as nossas feiras (as velhas e as novas) nos foram habituando.
     E o digno Teatro Diogo Bernardes, prenhe de acontecimentos e de visitantes ilustres que a sua rica história lhe proporcionou, não deixou de se emocionar ao ver como aqueles dois idiomas (ali representados, ainda, por Silvia Dopazo, Carlos Goméz Salgado, Cláudio Lima, Dantas Lima, Franclim Castro e Sousa, Daniel Campelo, o Presidente do Município de Ponte de Lima, e Isaac Vila Rodriguez, o Alcaide de Xinzo de Limia) confluíam.

(Publicado, originalmente, em Limiana, Revista de Informação, Cultura e Turismo, n.º 11, Fevereiro de 2009)


*- O texto, referido como do Conde de Bertiandos (Lenda do Rio Lima), não integra a sua obra. No entanto, o seu nome, mesmo com a imprecisão anotada (e dela não demos conta na versão publicada na Limiana), nela figura por inteiro mérito.

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