José Sousa Vieira
O mar
absorve-me o olhar.
Prefiro o rio Lima:
deixa-me, sempre,
outra margem…
O livro, edição da Associação Cultural
Civitas Limicorum de Xinzo de Limia, Limia – Río do Esquecemento, reúne textos e imagens,
actuais e do passado, num percurso de 148 páginas onde convergem o mito, a
história, a poesia, o afecto e a crença, num caudal de autores dos dois lados
de um mesmo rio: o Limia/Lima.
Silvia Dopazo, Antón Rivero Coello, Delfín
Caseiro, Francisco Domínguez Romero, Carlos Gómez Salgado, Antón Tovar, Xosé
Benito Reza, Federico Cocho, Álvaro Conqueiro, Florentino Cuevillas, Otero
Pedraio, Vicente Risco, Suso Vaamonde, Carlos Casares, Cláudio Lima, Diogo
Bernardes (numa composição atribuída a Luís de Camões, em compreensível lapso
que, durante muitos anos, vários especialistas repetiram), António Feijó,
Antonio Balboa Salgado, Luís Romero Becerra, Xosé Carlos Caneiro, Xose Lois
(Carrabouxo), Mariana Carballal, Luís Otero, Conde de Bertiandos*, Carlos
Rocha, Amândio de Sousa Vieira, Almada Negreiros, entre outros, são os
afluentes que engrossam esta obra de memória e homenagem, de canto e de
encanto.
Num namoro fascinante entre o sentimento
(as artes) e a razão (as ciências) esta colectânea, coordenada por Carlos Gómez
Salgado, quiçá familiar distante do limarense António Feijó que reivindicava
parentela original galega, é uma oportuna lembrança, um grito de memória que
atravessa os tempos e nos desperta para as virtudes e vicissitudes deste curso
de água, fluido mestre do Vale do Lima, corpo inteiro da nossa identidade
geográfica e afectiva.
Todos o sabemos. O río/rio Limia/Lima não
tem um percurso uniforme, nem corre livremente. Para além das dinâmicas
naturais que ao longo da sua vetusta história o foram mudando, a mão do homem,
com maior ou menor acerto, tem-se dele servido, alterando-lhe o curso e a
corrente, a fauna e a flora, modificando-lhe as condições morfológicas e
climatéricas, introduzindo-lhe barreiras construídas que o tentam moldar aos
seus interesses e necessidades, e nem sempre com o respeito e equilíbrio que a
partilha e a sobrevivência do nosso planeta aconselhariam.
É certo, ao crescimento demográfico e à
crescente capacidade do homem em utilizar os recursos naturais tem
correspondido, com maior evidência nos últimos anos, uma melhor consciência
ecológica, traduzida em algumas medidas tendentes a proteger os recursos,
encontrar alternativas mais equilibradas, melhorar a intervenção humana, recuperar,
se e quanto possível, claros dislates que o desconhecimento e a ganância foram
fazendo. Mas, e até aproveitando as recentes lições colhidas do colapso da
infalibilidade da organização económico-financeira que regia a sociedade
ocidental, é necessária maior e mais eficaz intervenção. É que de boas
intenções está a legislação ambiental cheia, faltando, demasiadas vezes, os
mecanismos para a tornar efectiva.
E o rio Lima, mais precisamente a sua
Bacia Hidrográfica, é a principal riqueza do Vale do Lima português. Todos os
projectos de desenvolvimento para a região deveriam ter essa constatação como
axioma, a sua protecção como doutrina, o seu aproveitamento equilibrado como
cerne. Não só por se tratar de uma das regiões de Portugal de melhores recursos
hídricos, mas, também, ninguém o ignora, porque a água potável será o centro
das preocupações humanas futuras e estamos todavia em condições de melhorar, na
nossa região, a sua qualidade e adequado aproveitamento.
Até por isto a oportunidade desta obra que
em Xinzo de Limia teve nascente a 28 de Novembro de 2008, aportando a Ponte de
Lima, vila irmã, a 11 de Janeiro de 2009, trazendo consigo as gaitas (Banda de
Gaitas de Xinzo de Limia) que, desde meninos, nos acordavam para a festa e as
vozes (Coro Santa Mariña) num linguajar a que as nossas feiras (as velhas e as
novas) nos foram habituando.
E o digno Teatro Diogo Bernardes, prenhe
de acontecimentos e de visitantes ilustres que a sua rica história lhe
proporcionou, não deixou de se emocionar ao ver como aqueles dois idiomas (ali
representados, ainda, por Silvia Dopazo, Carlos Goméz Salgado, Cláudio Lima,
Dantas Lima, Franclim Castro e Sousa, Daniel Campelo, o Presidente do Município
de Ponte de Lima, e Isaac Vila Rodriguez, o Alcaide de Xinzo de Limia)
confluíam.
(Publicado, originalmente, em Limiana, Revista de
Informação, Cultura e Turismo, n.º 11, Fevereiro de 2009)
*- O texto, referido como do Conde de Bertiandos
(Lenda do Rio Lima), não integra a sua obra. No entanto, o seu nome, mesmo com
a imprecisão anotada (e dela não demos conta na versão publicada na Limiana), nela
figura por inteiro mérito.
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