O Santo assistiu às festividades,
realizadas em 23 e 24 de Junho, em Ponte de Lima, da nova Ermida, para onde
tinha sido levado em Procissão Solene na tarde do dia 16, do mesmo mês, um
domingo. Na manhã, desse dia, tinham-lhe benzido e efectuado a primeira missa
da moderna morada.
Quis,
antes de conhecer a Ermida, percorrer muitas das ruas da vila. Poderia, da
Capela de Nossa Senhora do Rosário[1], próxima da ponte
medieval, onde se tinha abrigado para permitir a demolição da sua antiga residência,
em 1863[2], ter rumado rapidamente
para lá. Mas não, esfriou a curiosidade e aproveitou o ensejo para deambular no
burgo. E lá foi, na companhia do Senhor dos Aflitos, pelas Ruas do Rosário, 28
d’Agosto, Abadia, Adro da Matriz, S. José, Passeio de D. Fernando, Campo dos
Touros, Largo da Regeneração, Santo António, Esperança, D. Pedro, Souto, Castelo,
Italianos, Formosa, Calçada dos Artistas, Largo de S. João e Alameda das
Carvalheiras até chegar à Capela, mais isolada de que o passado templo, mas
permitindo-lhe espreguiçar a vista pelas areias e as águas do rio Lima, o seu
recente Jordão, e vislumbrar, lá ao fundo, a vetusta ponte de pedra.
Mas, quanto aos festejos desse ano, demos a
palavra às “fontes” (jornais Echo do Lima e O Lethes), que o Santo (S. João
namoradeiro…) há-de gostar do vocábulo, embora estas não jorrem água, nem
aproximem as moçoilas. Trazem, no entanto, a luz que alimenta a história, como
a fogueira, com ele relacionado, na tradição cristã, é aviso de nascimento.
Diz-nos O Echo do Lima: “Correram alegres,
expansivos e humorísticos os folguedos do S. João.”
“Na noite do fogo a concorrência era imensa.
O povo afluía de todas as partes para assistir às festas do grande precursor.”
Escreve-se em O Lethes: “O S. João desta
terra é um frenesi, é o tumultuar das turbas, é a expressão de júbilos
espontâneos, é o que não é em outra parte!”
“Alegria, que toca a meta do delírio!”
“Na noite do domingo houve fogo,
luminárias e entusiasmo na nova ermida do Baptista.”
E retorna o Echo: ”Na segunda-feira
percorreram as ruas da vila vários entremezes, que traziam em contínuo giro e
galhofa o bom do nosso povo. De tarde houve corrida de touros, e à noite teatro
que esteve concorrido, merecendo os curiosos os aplausos do público”.
Para O Lethes: “… os bailes de antiga usança,
e à tarde as toiradas… à noite houve o espectáculo anunciado, onde os curiosos
se houveram como era de esperar-se de seus esforços, estudo, e paixão pela arte
do proscénio”.
Onde os dois jornais não se entenderam foi
quanto às causas do desabamento do camarote ocupado por uma das bandas de
música locais (a chamada NOVA), durante toirada, não provocando grandes danos
aos envolvidos. Como se sabe, as rivalidades partidárias até tinham direito a expressão
musical: assim, os de o Echo do Lima viram acidente (talvez, por desleixo de
montagem); os de O Lethes, segundo eles, como é voz pública, ódios
inveterados e mal contidos.
Já por cá andava o Fotógrafo Miguel de
Novaes[3], a “tirar algumas vistas
das muitas pitorescas, que de diferentes pontos da vila se disfrutam, e merecem
representar em estampa, ao lado das admiráveis paisagens da Suíça, e margens do
Reno (…)”. Infelizmente, não as temos para abrilhantar este relato.
[1] Esta Capela foi demolida
em 1903, segundo Araújo, Jorge Pereira, in Ponte de Lima - Uma Vila Histórica
do Minho, Município de Ponte de Lima, 2007, p. 287.
[2] - Conforme Lemos, Miguel
Roque dos Reys, Anais Municipais de Ponte de Lima, Câmara Municipal de Ponte de
Lima, 1938, p.29: “Torre e porta de S. João… ambas tiveram o nome daquele santo
à conta da sua capela abobadada, de grandes dimensões, que havia dentro da
torre e por cima da porta…”. Situava-se à boca da actual rua Beato Francisco
Pacheco, virada para o Largo de S. João.
[3] - Não consta que a fotografia com que ilustramos este apontamento lhe
pertença, ela é considerada dos primeiros anos do Séc. XX (2.ª edição do Grande Hotel Marcos, Ponte de Lima, 1908).
Sem comentários:
Enviar um comentário