quinta-feira, 8 de agosto de 2013

PONTE DE LIMA E EU


“PONTE DE LIMA E EU”

                                    José Sousa Vieira


      Duas razões convergentes levaram-me a aceitar com satisfação o convite para dizer algumas palavras sobre o novo livro de Carlos de Lima Magalhães (Menã), “Ponte de Lima e Eu”.
     E, se o autor mo permitir, utilizo o título da sua obra para explicar, sucintamente, essas razões.
     A primeira é “Ponte de Lima”, esta vetusta terra, mais antiga que Portugal, que sendo a pátria do autor é a minha e de muitos dos presentes. E chamar-lhe pátria não é nenhuma figura de estilo. Como gostava de lembrar o ilustre Cardeal Saraiva, pátria não é só o nosso país é, também, a terra onde nascemos.
     A segunda é o “e Eu”, ele, o nosso Carlos de Lima Magalhães (Menã), autor digno, autêntico.
     A sua escrita tem sementeira, criou raízes, sofre as contingências climatéricas, os humores, é chuva e sol (tristeza e alegria), é dia e noite (luz e escuridão), é labuta pelo pão e sonho de quem sabe que “nem só de pão vive o homem”. Não transparece artifício, não cola palavras apenas porque soam bem, a rima é muitas vezes procurada, mas não forçada. Transmite vivências, sentimentos, desejos, desilusões, esperança e, acima de tudo, sinceridade.
     De facto, na obra de Carlos de Lima Magalhães (Menã), para além da constante referência aos temas limianos, é permanente a sinceridade. É quase palpável que ele sente aquilo que escreve. E isso faz dele alguém que consegue, no universo da poesia popular, e no nosso meio, um lugar de destaque, que vem sendo construído desde os inícios dos anos 80, do século XX.
     Assim, falar de “Ponte de Lima e Eu”, onde o autor tem a companhia apreciável de Américo Carneiro que ilustra, em exclusivo, com reprodução de 5 dos seus óleos, esta edição, é dizer de alguém que conhecendo o seu espaço o cristaliza, com coerência, em torno do seu lugar (Ponte de Lima), da sua festa maior (as Feiras Novas a Nossa Senhora das Dores), do seu leito (o Rio Lima), onde “deita” as suas mágoas, “adormece” as desilusões e “acorda” os desejos e esperanças e, claro, perpassando em tudo isto, os seus afectos, os seus contactos sociais, as suas vivências (as suas Contemplações).
     É este livro mais um adorno para o corpo dinâmico do limianismo. De facto, como escrevem no prefácio os Presidentes da Junta e da Assembleia de Freguesia de Ponte de Lima, Sr. Abel Braga e Prof. João Carlos Gonçalves, “o limianismo continua em franca expansão”.  
     Este vocábulo – Limianismo – criado pelo escritor António Ferreira, nosso patrício, em 1920, e, inicialmente, circunscrito a uma corrente literária, dinamizou-se, enriqueceu-se, alastrou a outros fazeres e sentires e é, hoje, um dos mais importantes traços de união dos habitantes (efectivos e afectivos) da Ribeira Lima, e de Ponte de Lima em particular, não deixando, no entanto, de servir de fulcro a uma corrente literária e cultural das mais importantes da região, e porque não dizê-lo, do país. Há, em Ponte de Lima, e nas mais diversas áreas, autores actuais de valor que em nada deslustram os antepassados. As obras de Amândio Dantas e Cláudio Lima, de António Matos Reis e Luís Dantas, de Salvato Trigo e José Cândido Martins, de Amândio Vieira e Alexandre Reigada, entre outros, aí estão a testemunhar, sem contradições, essa inolvidável e agradável realidade.
    E claro, como acima se infere, a obra de Carlos de Lima Magalhães (Menã) também aí cabe.
   Por isso o meu reconhecimento.


   Obrigado.


Nota: Infelizmente, Carlos de Lima Magalhães, que havia nascido na vila de Ponte de Lima, a 8 de Abril de 1932, deixou-nos em 18 de Setembro de 2009. Ficam estas palavras, proferidas na Sede da Junta de Freguesia de Ponte de Lima, a 8 de Julho de 2006, como homenagem.

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