“PONTE DE LIMA E EU”
José
Sousa Vieira
Duas
razões convergentes levaram-me a aceitar com satisfação o convite para dizer
algumas palavras sobre o novo livro de Carlos de Lima Magalhães (Menã), “Ponte
de Lima e Eu”.
E, se o autor mo permitir, utilizo o
título da sua obra para explicar, sucintamente, essas razões.
A primeira é “Ponte de Lima”, esta vetusta
terra, mais antiga que Portugal, que sendo a pátria do autor é a minha e de
muitos dos presentes. E chamar-lhe pátria não é nenhuma figura de estilo. Como
gostava de lembrar o ilustre Cardeal Saraiva, pátria não é só o nosso país é,
também, a terra onde nascemos.
A segunda é o “e Eu”, ele, o nosso Carlos
de Lima Magalhães (Menã), autor digno, autêntico.
A sua escrita tem sementeira, criou
raízes, sofre as contingências climatéricas, os humores, é chuva e sol
(tristeza e alegria), é dia e noite (luz e escuridão), é labuta pelo pão e
sonho de quem sabe que “nem só de pão vive o homem”. Não transparece artifício,
não cola palavras apenas porque soam bem, a rima é muitas vezes procurada, mas
não forçada. Transmite vivências, sentimentos, desejos, desilusões, esperança
e, acima de tudo, sinceridade.
De facto, na obra de Carlos de Lima
Magalhães (Menã), para além da constante referência aos temas limianos, é permanente
a sinceridade. É quase palpável que ele sente aquilo que escreve. E isso faz
dele alguém que consegue, no universo da poesia popular, e no nosso meio, um
lugar de destaque, que vem sendo construído desde os inícios dos anos 80, do
século XX.
Assim, falar de “Ponte de Lima e Eu”, onde
o autor tem a companhia apreciável de Américo Carneiro que ilustra, em
exclusivo, com reprodução de 5 dos seus óleos, esta edição, é dizer de alguém
que conhecendo o seu espaço o cristaliza, com coerência, em torno do seu lugar
(Ponte de Lima), da sua festa maior (as Feiras Novas a Nossa Senhora das
Dores), do seu leito (o Rio Lima), onde “deita” as suas mágoas, “adormece” as
desilusões e “acorda” os desejos e esperanças e, claro, perpassando em tudo
isto, os seus afectos, os seus contactos sociais, as suas vivências (as suas
Contemplações).
É este livro mais um adorno para o corpo
dinâmico do limianismo. De facto, como escrevem no prefácio os Presidentes da
Junta e da Assembleia de Freguesia de Ponte de Lima, Sr. Abel Braga e Prof.
João Carlos Gonçalves, “o limianismo continua em franca expansão”.
Este vocábulo – Limianismo – criado pelo
escritor António Ferreira, nosso patrício, em 1920, e, inicialmente,
circunscrito a uma corrente literária, dinamizou-se, enriqueceu-se, alastrou a
outros fazeres e sentires e é, hoje, um dos mais importantes traços de união
dos habitantes (efectivos e afectivos) da Ribeira Lima, e de Ponte de Lima em
particular, não deixando, no entanto, de servir de fulcro a uma corrente
literária e cultural das mais importantes da região, e porque não dizê-lo, do
país. Há, em Ponte de Lima, e nas mais diversas áreas, autores actuais de valor
que em nada deslustram os antepassados. As obras de Amândio Dantas e Cláudio
Lima, de António Matos Reis e Luís Dantas, de Salvato Trigo e José Cândido
Martins, de Amândio Vieira e Alexandre Reigada, entre outros, aí estão a
testemunhar, sem contradições, essa inolvidável e agradável realidade.
E claro, como acima se infere, a obra de
Carlos de Lima Magalhães (Menã) também aí cabe.
Por isso o meu reconhecimento.
Obrigado.
Nota:
Infelizmente, Carlos de Lima Magalhães, que havia nascido na vila de Ponte de
Lima, a 8 de Abril de 1932, deixou-nos em 18 de Setembro de 2009. Ficam estas
palavras, proferidas na Sede da Junta de Freguesia de Ponte de Lima, a 8 de
Julho de 2006, como homenagem.
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