Era tal a fobia do poder que a simples realização
de um convívio juvenil foi suficiente para agitar as Praças do burgo: do Largo
de Camões à Praça da República ia um abanar que te avias!
Reprimendas, ameaças, relatórios abondo,
trágico e triste sinal de um regime caduco, opressor, escudado em arremedos. E
tudo, como dito, por causa de um convívio, que a iniciativa de Bernardo Vilas
Boas tinha conseguido organizar na noite do dia 27 de Junho de 1972, uma
terça-feira, nas instalações da Oficina de S. José, em Ponte de Lima, e que teve a adesão de um grupo de jovens e a visita de representantes da
autoridade, estes pouco satisfeitos com a actividade.
O convívio foi singelo e, além de alguma
conversa, contou com canto de intervenção. Não recordo o nome do cantor, apenas
que entre os temas apresentados estava um (mais tarde vim a saber ser musicado a partir de poema da autoria de José Carlos Ary dos Santos, de título Estado
Velho) que rezava assim:
“Ah! Não há dúvida
Vocês existem, vocês persistem
Vocês existem com grémios e tribunais
Medidas de segurança e capitais
Plenários mercenários festivais
Grades torturas verbenas
Cativeiros de longas penas
Com vista para o mar
Para matar
Palhaço
Lacrimogénio
Capacete de aço
Vocês existem bordados a ponto de cruz
Fazendo a guerra sugando o povo
Sorvendo a luz com Estoris, cocktails, recepções
Canastas e rallies
Whisky, cocktails, cherries
Trapeiras, esconsos, saguões
Discursos, salmão, lagostas
Pão duro, desespero e crostas
Sorrisos de hospedeiras
E assassínios de ceifeiras
Palhaço
Lacrimogénio
Capacete de aço
Vocês existem, baionetas e chá com bolos
Cooperativas, clubes de mães
Concursos de gatos e cães
Cães de luxo para lamber
Cães polícias - polícias cães
Para morder
Barracas de lata para viver
Salários de fome para sofrer
Trapos, suor e lodo
Amáveis conversas de casaca
E sobre as nossas cabeças
A matraca
Palhaço
Lacrimogénio
Capacete de aço
Ah! Não há dúvida
Vocês continuam a existir
Até ao raio que vos há-de partir.”
Vocês existem, vocês persistem
Vocês existem com grémios e tribunais
Medidas de segurança e capitais
Plenários mercenários festivais
Grades torturas verbenas
Cativeiros de longas penas
Com vista para o mar
Para matar
Palhaço
Lacrimogénio
Capacete de aço
Vocês existem bordados a ponto de cruz
Fazendo a guerra sugando o povo
Sorvendo a luz com Estoris, cocktails, recepções
Canastas e rallies
Whisky, cocktails, cherries
Trapeiras, esconsos, saguões
Discursos, salmão, lagostas
Pão duro, desespero e crostas
Sorrisos de hospedeiras
E assassínios de ceifeiras
Palhaço
Lacrimogénio
Capacete de aço
Vocês existem, baionetas e chá com bolos
Cooperativas, clubes de mães
Concursos de gatos e cães
Cães de luxo para lamber
Cães polícias - polícias cães
Para morder
Barracas de lata para viver
Salários de fome para sofrer
Trapos, suor e lodo
Amáveis conversas de casaca
E sobre as nossas cabeças
A matraca
Palhaço
Lacrimogénio
Capacete de aço
Ah! Não há dúvida
Vocês continuam a existir
Até ao raio que vos há-de partir.”
E porque já devem ter percebido o incómodo do poder… isto
também faz parte (continua a história):
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