sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen e Ponte de Lima

     No Lima [1]

No barco do Ponte-Nova
ou do Pai-Quim
este remansoso navegar
vai dentro de mim,

mais além do nu –
assim como o silêncio
é a essência da palavra,

e as águas são deusas
liquefeitas.

É estio no Lima.

   A Casa de Nossa Senhora de Aurora serviu como espécie de farol a relevantes actores culturais de visita a Ponte de Lima. Entre muitos outros, por cá foi passando Sophia de Mello Breyner Andresen:
  “A descida do rio Lima é tentadora e emocionante digressão, muito de aconselhar pelo deslumbramento da variegada beleza panorâmica.
  Apalavre-se na Além da Ponte o «Pai Quim», o «Ponte-Nova», ou outro autóctone, e a coisa arranja-se, ainda hoje, em 1959, por quaisquer 50 paus ou pouco mais (e comparticipação do farnel obrigatório dos viageiros). Dura umas 5 a 7 horas na melhor época, o Estio.
   Ruben A. e Sofia Andresen repetem anualmente a façanha”[2], “com paragem obrigatória para tomar chá no Solar de Bertiandos.”[3]

Sophia Andresen, Francisco Sousa Tavares e Ruben A., descendo o rio Lima  (Fotografia sem autor identificado)


    Para Ruben A. descer o rio Lima de barco é “uma das coisas raras no mundo, e que deve ser feita ao menos uma vez na vida (…) numa espantata de barca antiga através do silêncio que ainda é – verdade de um dia na terra de pegos fundos pica-peixes de popa azul salgueiros de raízes fazendo sombra veigas de Correlhã e Paços ancestrais coisa assim deslizar roçando ao de leve pela areia espanto que mais não há – rio de poetas Letes da antiguidade leva ao esquecimento quem nunca tal panorâmica retinou (…)[4]
 E como correm as águas a vida vai passando, os escritores Conde d’Aurora e Ruben A., lá desaguaram. Sophia de Melo Breyner Andresen não os esqueceu e, em 1996, a 7 de Dezembro, voltou a ter a Casa de Nossa Senhora de Aurora como farol, associando-se à homenagem ao primeiro, a quem, no Largo de S. João, foi inaugurada uma estátua.
 Nesse dia, “numa inesquecível manhã, partiram desta casa, no barco à vara do Pai Quim, para descer o rio até Viana, Ruben A. e Sophia de Mello Breyner Andresen.”[5] Porque não? A vida pode reviver.
  








Na Casa de Nossa Senhora de Aurora, a 7 de Dezembro de 1996, Sophia de Mello Breyner Andresen e o Embaixador João de Sá Coutinho. Fotografia de Amândio de Sousa Vieira.









    No mesmo local, e data, Sophia de Mello Breyner Andresen e Amândio de Sousa Vieira. Fotografia de António Carlos Matos.
                                          


 
Fontes:
- Amândio de Sousa Vieira, Ponte de Lima Outros Tempos, 1.ª Edição, Ponte de Lima, 1994.
- Conde d’Aurora – Roteiro da Ribeira – Lima, 4.ª edição (Fac-similada da Terceira (1959), e actualizada por João Gomes de Abreu de Lima), Limici, Ponte de Lima, 7 de Dezembro de 1996.
- Liberto Cruz, José Brandão, Nicolau Andresen Leitão, O Mundo de Ruben A., Assírio & Alvim, Lisboa, 1996.
- Maria do Rosário de Sá Coutinho, Dr. José de Sá Coutinho, Figuras Limianas, Município de Ponte de Lima, 2007.




[1] - José Sousa Vieira, No Lima, Anunciador das Feiras Novas, Ano XVI, Ponte de Lima, 1999, pg. 103.
[2] - Conde d’Aurora, Roteiro da Ribeira-Lima, 1996 (1959), pg. 109.
[3] - Liberto Cruz, José Brandão, Nicolau Andresen Leitão, O Mundo de Ruben A., 1996, pg. 168.
[4] - idem
[5] - Amândio de Sousa Vieira, Ponte de Lima Outros Tempos, Ponte de Lima, 1994, pg. 115.

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