A grande novidade e expectativa estava na realização, impulsionada por comissão, liderada pelo prior da vila, Monsenhor António Pereira Lima (Ponte de Lima, 24 de Outubro de 1852 - 16 de Fevereiro de 1930), “amigos de fazer ressuscitar a tradição no que ela tem de característico e bom”, da procissão do Corpo de Deus, outrora famosa em Ponte de Lima e que diziam ir reaparecer “com todo o aparato e esplendor igual ao que a revestia há uns bons 50 anos”.
Assim, nesse ano, à Vaca das Cordas, que apesar das suspensões e faltas de ambas terá prosperado como parte integrante desses festejos, voltava a velha companhia.
E depois de na tarde de o dia 30 de Maio ter ocorrido “o antigo divertimento da vaca das cordas”, em que “como de costume houve muitos sustos e correrias mas felizmente nenhuma nota discordante”, às 17.00 horas dessa quinta-feira, 31 de Maio, cumpriu-se o prometido. Pelas “ruas de S. José, Torre de S. Paulo, Passeio Cândido dos Reis, Avenida 5 de Outubro, ruas de Agostinho José Taveira, João Morais, Norton de Matos, Largo Dr. António de Magalhães, ruas Vieira Lisboa, D. Leonel de Lima, Boaventura José Vieira, Pe. Francisco Pacheco, Largo 13 de Fevereiro, rua do Rosário, Praça de Camões, Largo de S. José, rua da Abadia e Largo da Matriz”, ornada por “todas as irmandades da vila e de grande número das freguesias circunvizinhas, os párocos do concelho, com as respectivas cruzes paroquiais, S. Jorge com o seu estado-maior, carros das ervas, Boi Bento e S. Cristóvão conduzido por oito barqueiros num andor”, decorreu a procissão do Corpo de Deus.
“Durante o dia” tocou “ a banda dos nossos Artistas” e, na vila, “notava-se um desusado movimento que maior seria se o tempo não se apresentasse de mau cariz”
Em apreciação doutrinal, Carlos de Passos, em texto datado desse dia (31.05) e publicado no jornal Rio Lima, de 3 de Junho, entre outros considerandos, afirma que “uma excelente lição de civismo deu hoje ao país a vila de Ponte de Lima: e seus representantes, a municipalidade, merecem-lhe os melhores louvores [então, na comissão executiva estavam Adelino Ribeiro Sampaio (presidente), Francisco Pereira Campos (Vice-presidente), José Mendes da Costa Júnior, Avelino Guimarães, Raúl Pimenta… vereadores]: “mas quando os homens da ordem presente d’um modo nobre, dignamente rasgado, dão sua companhia à procissão, menosprezando falsas concepções e falsos temores, não se compreende que os vencidos tão triste prova de firmeza e isenção moral-religiosa dessem de si. Quantos faltaram, quantos amarelos, oportunistas, os temperados do dizer faceto de Camilo? ..." .
Fontes
principais: jornais Cardeal Saraiva e Rio Lima, d/nºs, ano de 1923.
Crédito da ilustração: pormenor de fotografia incluída no Almanaque de Ponte de Lima, 1923 (A tradição Taurófila do Lima, Conde de Aurora) e recorte de cartaz de exposição do Museu dos Terceiros – Ponte de Lima.
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