quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Inauguração do Teatro Diogo Bernardes


Quis a Empresa do Teatro de Ponte do Lima inaugurar a sua casa de espectáculos no dia 19 de Setembro de 1896, um sábado, primeiro dos três dias das festividades e feiras anuais em honra de N. S.ª das Dores.
Contratou a Companhia de Ópera Cómica Portuguesa, dirigida pelo actor Francisco Cruz, para quatro récitas, repartidas pelo já mencionado dia 19, e pelos dias 21, 22 e 23, segunda, terça e quarta-feira, respectivamente. Pôs os bilhetes à venda no estabelecimento do Sr. Lobato, até às seis horas da tarde do dia dos espectáculos, e de noite no bilheteiro do teatro, com preços individuais de 140 a 500 réis, e desconto de 10% para os assinantes.
E, no dia 19, às 8 horas da noite, com casa repleta, muita gente trajando de gala, tendo todos assistido, "de pé, ao descerramento do pano de boca, que representa uma vista do Lima, - areal, ponte, margens pitorescas e casario do outro lado, e uma larga perspectiva dos montes - em que se nos revela o mérito superior e pugantes aptidões artísticas de Eduardo Reis"1, e após ovação "ruidosa ao som do hino nacional2 executado pela orquestra"1, passou-se à primeira representação no palco, à italiana, do novo teatro, com Os Sinos de Corneville, adaptação livre de Eduardo Garrido, da famosa ópera cómica, francesa, em 3 actos e 4 quadros, da autoria de Robert Planquette (música), Clairville (pseudónimo de Louis François Nicolaie) e Charles Gabet.
Na segunda-feira, dia 21, representou-se a primeira peça de autores portugueses, a ópera cómica em 3 actos, O Burro do Sr. Alcaide, de Gervásio Lobato e D. João da Câmara, com música de Cyriaco de Cardoso.
No dia 22, novamente o teatro francês, com a opereta Os 28 dias de Clarinha, original de Hippolyte Raymond e Antony Mars, com música de Victore Roger.
A encerrar o programa da inauguração, no dia 23, quarta-feira, subiu à cena O Moleiro d'Alcalá, ópera cómica, em 3 actos e 4 quadros, de Eduardo Garrido e música do maestro francês Justin Clérice.
1- A Semana, ano V, n.º 229, 24 de Setembro de 1896.
2- Atribuído a D. Pedro IV, que o terá composto no Brasil, onde era Príncipe Regente, dedicado à primeira Constituição Liberal Portuguesa, aprovada em 22 de Setembro de 1822, e que a partir de Maio de 1834 se transformou no Hino Nacional, só substituído pela "A Portuguesa", na sequência da implantação da República, a 5 de Outubro de 1910.

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