terça-feira, 9 de janeiro de 2007

ANTÓNIO FEIJÓ E A CRÍTICA.


ANTÓNIO FEIJÓ
CARTAS A LUÍS DE MAGALHÃES


Em 2004, com apresentação, transcrição e notas de Rui Feijó, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, com o apoio da Câmara Municipal de Ponte de Lima, editou, em 2 volumes, ANTÓNIO FEIJÓ CARTAS A LUÍS DE MAGALHÃES.
Um pouco ao acaso, e sem esgotar o tema, vamos transcrever alguns queixumes de Feijó, ao seu amigo, no que concerne à importância dada a livros e autores, por ele considerados menores, em detrimento de outros que, para Feijó, mereciam maior atenção. Assim, numa carta de 1880, comentando a publicação de Primeiros Versos, de Luís de Magalhães, entre outras afirmações, o poeta ponte-limense escreve que “para que o teu livro riscasse a minha sensibilidade de uma forma agradável, - era necessário que sobrepujasse em muito as vulgaridades que de tempos a tempos vão atascalhando os meus nervos com mixórdias poéticas e burundangas de cordel. (...)”. Sem deixar de apontar “defeitos”, Feijó afirma que o livro de Magalhães está “eminentemente superior aos artistas que lograrão o favor do noticiário lisbonense composto duma canzoada de imbecis(...)”.
Quatro anos volvidos, em 12 de Maio de 1884, Feijó pergunta “(...) quem acordará este miserável silêncio do noticiário, pronto sempre a louvar todos os ineptos, e mudo de inveja perante os que se impõem pelo talento? (...)”
Estes excertos, extraídos das cartas [5] e [35] do Vol. I, da obra referida, são uma pequena amostra, com plena actualidade, e inspiradores do modesto texto seguinte.
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Há tão pouca coisa boa,
tanta má por boa escrita,
que quando o bem se apregoa
quase ninguém acredita.


António Aleixo


Não é novo mas, de quando em quando, assume contornos caricatos.
Já deixo de lado, óbvio, os que têm sempre um conjunto de adjectivos laudatórios prontos a repartir, alegremente, por tudo quanto aparece e se pode “folhear”.
Centro-me naqueles que, por diversos motivos, não se coibindo de fazer elogios envenenados a obras honestas, com o maior impudor propagandeiam, por iniciativa pessoal ou a incentivo alheio, tentando confundi-las com trabalho digno (e ele existe, felizmente, em todos os géneros de publicações, literárias ou não) as mais completas banalidades, por vezes, abaixo disso, para vergonha da língua pátria e da criação artística, onde valor e rigor estão ausentes e, em certos casos, a deturpação e a mentira campeiam, achincalhando a verdade, descartando a investigação.
Passam-nos, pobres ledores, um atestado de ignorância.
Jesus Cristo, que não “percebia nada de finanças, nem consta que tivesse biblioteca"*, lhes perdoe!

* - Segundo Fernando Pessoa, no poema Liberdade.

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