Tourada semelhante à Vaca das Cordas de Ponte de Lima]
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Aproveitamos um excerto do texto (actualizando a grafia) incluído no n.º 102 do jornal Cardeal Saraiva de 29 de Maio de 1913, e que, de forma álacre, relata a Vaca das Cordas desse ano, e nos encaminha para pormenores e percursos de tempos anteriores.
Esse texto não identifica o autor e conclui com a transcrição da tese de Miguel Roque dos Reys Lemos, quanto à origem desta tradição.
“Não foi corrida na tarde de quinta-feira, porque, quebrando as prisões num esticão rápido, abalou para as verdes montadas da armada, donde viera para o espectáculo brutal!
O caso produziu fundo desconsolo na enorme concorrência, que antegostava os prazeres do seu predilecto divertimento; e, daí, a corrida da vaca das cordas – que por sinal era boi – na tarde de domingo.
Ser boi ou vaca não nos parece, porém, motivo para controvérsia, pois que uma postura municipal de 1720 lhe chama touro das cordas.
A corrida realizou-se no domingo – dia iluminado e quente como de pleno estio – com numerosíssima assistência de pessoas da vila e arredores.
Somos do tempo em que esta usança tinha ainda o seu feitio tradicional.
O bicho era amarrado às grades de ferro da janela do sopé da torre da igreja da Matriz, à tarde da véspera do Corpus Christi, e agrilhoado e apupado pela multidão, esperava espumando raiva, que terminassem as solenidades religiosas, que nesse dia se faziam ali com a presença do senado, as paredes forradas de fresca ramaria e no pavimento espanadas e funcho oloroso.
A aludida postura impunha a todos os moleiros do termo a obrigação de virem na véspera de Corpus Christi à vila para andarem com o touro das cordas – sob a pena de 480 réis pagos na cadeia para o concelho quem faltasse – e por isso, após as solenidades, dois desses moleiros tomavam conta do cornúpeto, e segurando-o com valentia por fortes e compridas cordas davam com ele três voltas em redor da igreja e seguiam depois, a trote e no meio de alaridos e confusão, para o Passeio e amplo areal, onde os perigosos boléus arrancavam delirantes aplausos, e tais e outras sortes tinham sucesso ruidoso ao ânimo dos numerosíssimos espectadores!!
Era uma cena selvagem, que apaixonava novos e velhos e parecia produzir alvoroçadas alegrias nos mais graves e circunspectos! (...)”
Esse texto não identifica o autor e conclui com a transcrição da tese de Miguel Roque dos Reys Lemos, quanto à origem desta tradição.
“Não foi corrida na tarde de quinta-feira, porque, quebrando as prisões num esticão rápido, abalou para as verdes montadas da armada, donde viera para o espectáculo brutal!
O caso produziu fundo desconsolo na enorme concorrência, que antegostava os prazeres do seu predilecto divertimento; e, daí, a corrida da vaca das cordas – que por sinal era boi – na tarde de domingo.
Ser boi ou vaca não nos parece, porém, motivo para controvérsia, pois que uma postura municipal de 1720 lhe chama touro das cordas.
A corrida realizou-se no domingo – dia iluminado e quente como de pleno estio – com numerosíssima assistência de pessoas da vila e arredores.
Somos do tempo em que esta usança tinha ainda o seu feitio tradicional.
O bicho era amarrado às grades de ferro da janela do sopé da torre da igreja da Matriz, à tarde da véspera do Corpus Christi, e agrilhoado e apupado pela multidão, esperava espumando raiva, que terminassem as solenidades religiosas, que nesse dia se faziam ali com a presença do senado, as paredes forradas de fresca ramaria e no pavimento espanadas e funcho oloroso.
A aludida postura impunha a todos os moleiros do termo a obrigação de virem na véspera de Corpus Christi à vila para andarem com o touro das cordas – sob a pena de 480 réis pagos na cadeia para o concelho quem faltasse – e por isso, após as solenidades, dois desses moleiros tomavam conta do cornúpeto, e segurando-o com valentia por fortes e compridas cordas davam com ele três voltas em redor da igreja e seguiam depois, a trote e no meio de alaridos e confusão, para o Passeio e amplo areal, onde os perigosos boléus arrancavam delirantes aplausos, e tais e outras sortes tinham sucesso ruidoso ao ânimo dos numerosíssimos espectadores!!
Era uma cena selvagem, que apaixonava novos e velhos e parecia produzir alvoroçadas alegrias nos mais graves e circunspectos! (...)”
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