sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

MIMI AGUGLIA EM PONTE DE LIMA

A intenção era anterior, mas só a partir de meados de Novembro começou a despertar a curiosidade e a ganhar direito a comentário aberto: o empresário do Teatro Diogo Bernardes, Avelino Guimarães, pretendia trazer até Ponte de Lima uma companhia teatral italiana, que tinha como primeira figura Mimi Aguglia (1884-1970), uma autêntica diva dos palcos, capaz de arrebatar elites e simples apreciadores da arte cénica e, como se veria depois, suficiente para motivar uma trégua entre Pancho Villa e as tropas federais, no México, para que ambos os lados beligerantes pudessem assistir aos seus espectáculos.
Em 3 de Dezembro de 1912, uma terça-feira, ao tablado do Diogo Bernardes subiu Mimi Aguglia, e os restantes actores, para a representação do drama, em quadro actos, de Hermann Sudermann (1857-1928), Magda.
A escolha da peça, a que era reconhecida excelência, não agradou ao jornal O Commercio do Lima, “porque tendo os actores de declamar numa língua estranha, de melhor efeito seria, para a compreensão do público, que se preferisse outra peça do repertório da companhia, e são elas bastantes, em que o trabalho de Mimi se manifestasse mais pela acção impressionante e empolgadora, do que pela dicção”. E após elogiar a alta qualidade do desempenho da actriz, o jornal refere que dos restantes interpretes apenas dois se destacaram, o que foi considerado natural, pois “se com uma celebridade já foi puchadinho, o que não seria com uma companhia de celebridades!”.
O “puchadinho”, claro, era o preço dos ingressos e, pelo P.S. com que se remata a prosa, o frio “siberiano quando o pano subia”, pedindo-se que em dias de espectáculo se mandassem acender “todas as luzes da sala do Teatro, a ver se consegue fazer subir a temperatura”.
Responde o jornal “Cardeal Saraiva” (Avelino Guimarães), lamentando que o espectáculo não tivesse sido mais concorrido, zurzindo a maioria do público por falta de compreensão para “o moderno teatro” e só querer ”rir-se”, referindo do agrado dos que assistiram à peça, a julgar pelas “estrondosas e por vezes entusiásticas ovações que, sem favor, dispensaram à grande actriz siliciana, em todos os finais de acto”.
Quanto à escolha da peça... esta foi a possível, atendendo ao cenário e ao preço, que, mesmo assim, “não foi nada barato”. “Por isso tivemos de nos sujeitar a ver a Magda (Casa Paterna), o que já não representa pouco em terras minúsculas como a nossa, ainda para mais reposta em cena por uma das melhores actrizes do mundo!”. E, após fazer uma pequena apreciação ao desempenho, remata, com indisfarçável azedume, dizendo aos leitores “que tarde ou nunca terão o prazer de apreciar em Ponte de Lima tão excelente companhia por preços relativamente baratos”.
Noutro espaço, do mesmo jornal, explica-se que o frio permaneceria, mesmo com todas as luzes acesas, e que a opção, neste particular, tinha sido da companhia, por razões cénicas.
E por aqui se quedaram, pensamos, as repercussões da passagem pelo Teatro Diogo Bernardes de uma enorme actriz.

Como Fernando Correia Dias (1892-1935) e José de Almada Negreiros (1893-1970) apontaram a passagem de Mimi Aguglia por Portugal, nesse ano de 1912.
José de Almada Negreiros
Fernando Correia Dias

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