quarta-feira, 5 de março de 2008

O ROSQUEDO - DELFIM GUIMARÃES


“Pretendendo fazer crítica social, com páginas de cru realismo e de desassombrada denúncia de comportamentos classistas, - Ponte de Lima é «um bonito cortiço com pessimas abelhas», diz ele na pág. 143 – é como fotografia de um lugar e de uma época que, em nosso entender, reside a grande virtude deste livro. Porque ler hoje O Rosquedo representa, mais do que evocar o passado, senti-lo vivo e pulsátil diante dos nossos olhos”.[i] E tem razão Cláudio Lima. É isso o essencial da obra de Delfim Guimarães (1872-1933), elaborada, a acreditar no local e data com que o autor antecede a palavra FIM, em “Ponte do Lima, 1900/901”, agora acessível, pela 3.ª Edição[ii], em feliz e oportuna iniciativa de Adelino Tito de Morais que lhe acrescenta, em esforço de identificação de personagens e divulgação do escritor, 42 novas páginas.
Desde que para cá se mudou, após a sua rotura, em 1899, com “O Século”, Delfim Guimarães, excluindo a poesia, para além do romance “O Rosquedo”, enriqueceu-nos, entre outras, com duas obras dramaturgicas, ambas estreadas no Teatro Diogo Bernardes: em 1901, “A República de Rebordões”, e, em 1902, “Mariquinhas Tecedeira”, também publicada em Folhetim, nas páginas do jornal O Lima, de que era, então, director. E depois da sua partida, em 1903, edita, cinco anos volvidos, “Ares do Minho”, onde a sua vivência no nosso concelho volta a estar presente.
Delfim Guimarães nasceu no Porto, mas sendo o seu pai de Ponte de Lima, por aqui foi passando parte da sua infância e adolescência, revelando cedo o seu amor pela cultura, como em 1888, quando, aos 16 anos, e com João Inácio de Araújo Lima, fundou o “Club Recreativo Diogo Bernardes”.[iii]
[i] - Lima, Cláudio, Um rio de muitas luzes, “Delfim Guimarães, O Rosquedo – Uma leitura cem anos depois”, pp. 63/67, 2005[ii] - A 1.ª Edição é de 1904 e a 2.ª de 1912, ambas da Guimarães & C.ª – Editores.[iii] - Marques, Galino (Org.), In Memoriam de Delfim Guimarães 1872-1933, João I. de Araújo Lima, “Amizade de 45 anos!", pp. 221/224, Guimarães & C.ª, Lisboa, 1934.
[Ilustração – Delfim Guimarães em aguarela de Roque Gameiro, 1906]

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