O limarense Severino de Faria incluiu, no Almanaque de Ponte de Lima, 1927 (só editado nos fins de 1928), uma composição poética, tendo por base a Lenda das Unhas do Diabo. Hoje, dia da inauguração do RUARTE, em Ponte de Lima, exactamente com uma grande produção alusiva à referida lenda, aqui a deixamos transcrita:
A PEDRA DO DIABO
(LENDA)
Num convento solitário
De monges sem abastança,
Deu-se um caso extraordinário
Que me int’ressou em criança.
Por vezes, ouvi dizê-lo
A um velho cheio de fé;
E, ao narrá-lo, o meu cabelo
Punha-se todo de pé.
Ei-lo aí vai: em noite escura,
Junto às grades do portão,
Surge sinistra figura
Que assim brada ao guardião:
- «Reúne a comunidade
Para que, de perto, veja
Quem não póde, quem não há-de,
Repousar dentro da igreja.»
O grupo, num pasmo absorto,
A’ luz dos círios, com mêdo,
Assistiu a erguer um morto
De sob um grande lajedo.
E Satanás, furibundo,
Com tal murro, tal pancada,
Arrancou-lhe bem do fundo
A Partícula Sagrada.
Num fragor apavorante,
Como em abraço fraterno,
O cadáver, num instante,
Foi conduzido ao inferno
*
* *
Entre Santo António e a Guia,
Junto à múrmura corrente,
Uma pedra ali havia,
Que eu lembro, saudosamente…
E o povo todo afirmava,
Vendo-a assim, em menoscabo,
Que o sinal que ela mostrava
Era o da mão do diabo.
*
* *
Nestes versos imperfeitos
Fica, pois, descrita a lenda;
Mas a par dos seus defeitos,
Oxalá que bem se entenda.
Post-Scriptum
Aos edis da minha terra
Um apélo aqui declino:
A’ lágea, que a treva encerra,
Se lhe descubra o destino.
E seguindo a longa escala
Duma busca em sua pista,
Achando-a, devem guardà-la
Num museu regionalista.
*
Com se sabe, actualmente, a referida pedra, que, ao que parece, andou desaparecida, encontra-se acolhida junto ao Museu dos Terceiros.
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