sexta-feira, 29 de junho de 2012

Unhas do Diabo

O limarense Severino de Faria incluiu, no Almanaque de Ponte de Lima, 1927 (só editado nos fins de 1928), uma composição poética, tendo por base a Lenda das Unhas do Diabo. Hoje, dia da inauguração do RUARTE, em Ponte de Lima, exactamente com uma grande produção alusiva à referida lenda, aqui a deixamos transcrita:

 A PEDRA DO DIABO (LENDA) 





 Num convento solitário 
 De monges sem abastança, 
 Deu-se um caso extraordinário 
 Que me int’ressou em criança. 

 Por vezes, ouvi dizê-lo 
 A um velho cheio de fé;
 E, ao narrá-lo, o meu cabelo 
 Punha-se todo de pé. 

 Ei-lo aí vai: em noite escura, 
 Junto às grades do portão, 
 Surge sinistra figura 
 Que assim brada ao guardião: 


 - «Reúne a comunidade 
 Para que, de perto, veja 
 Quem não póde, quem não há-de, 
 Repousar dentro da igreja.» 

 O grupo, num pasmo absorto,
 A’ luz dos círios, com mêdo, 
 Assistiu a erguer um morto 
 De sob um grande lajedo. 

 E Satanás, furibundo, 
 Com tal murro, tal pancada, 
 Arrancou-lhe bem do fundo 
 A Partícula Sagrada. 

 Num fragor apavorante, 
 Como em abraço fraterno, 
 O cadáver, num instante, 
 Foi conduzido ao inferno 

 * * * 

 Entre Santo António e a Guia,
 Junto à múrmura corrente,
 Uma pedra ali havia, 
 Que eu lembro, saudosamente…

 E o povo todo afirmava, 
 Vendo-a assim, em menoscabo, 
 Que o sinal que ela mostrava 
 Era o da mão do diabo.

  * * * 

 Nestes versos imperfeitos 
 Fica, pois, descrita a lenda; 
 Mas a par dos seus defeitos, 
 Oxalá que bem se entenda. 


 Post-Scriptum 


          Aos edis da minha terra 
          Um apélo aqui declino: 
          A’ lágea, que a treva encerra, 
          Se lhe descubra o destino.


          E seguindo a longa escala 
          Duma busca em sua pista, 
          Achando-a, devem guardà-la 
          Num museu regionalista. 
                                                                         *

 Com se sabe, actualmente, a referida pedra, que, ao que parece, andou desaparecida, encontra-se acolhida junto ao Museu dos Terceiros.

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