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Os preços que afinal não sobem…descem.
15 dias antes do anúncio oficial dos
aumentos de preços os responsáveis põem a circular, pelos mais variados canais,
que, por exemplo, o arroz vai aumentar 10 escudos ou que a gasolina sobe 5. E o
consumidor lá se vai mentalizando para os novos aumentos fazendo prodigiosas
operações para conseguir que os seus rendimentos não o forcem a comer as solas
dos velhos sapatos, como Charlot, ou vestir-se com a parra da mãe Eva, e, “mais
vale prevenir do que remediar”, lá põe à mão os sapatos velhos disponíveis e as
parras necessárias – é que 1+1=1 é apenas, no dizer de Almada Negreiros, a
fórmula do amor.
Mas, enorme alívio, o ministro vem à
televisão com os novos preços: o arroz sobe 5 escudos e a gasolina 3. Afinal,
pensa satisfeito o consumidor, dentro da mais irrefutável lógica, se atentarmos
ao facto de, durante 15 dias, os preços propagandeados serem mais elevados, o arroz
e a gasolina descem. E, eufórico e estonteado, guarda os velhos sapatos e
devolve as parras ao seu habitat próprio… até se dar conta de que o que desceu,
efectivamente, foi o volume da sua carteira.”
Nota: Publicado no início dos anos 80, do
século passado, no jornal Cardeal Saraiva, de Ponte de Lima. Qualquer
semelhança com a realidade actual (falo das falas oficiais em diversas medidas
anunciadas) é pura coincidência.
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