terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ontem como hoje



“- Os preços que afinal não sobem…descem.

     15 dias antes do anúncio oficial dos aumentos de preços os responsáveis põem a circular, pelos mais variados canais, que, por exemplo, o arroz vai aumentar 10 escudos ou que a gasolina sobe 5. E o consumidor lá se vai mentalizando para os novos aumentos fazendo prodigiosas operações para conseguir que os seus rendimentos não o forcem a comer as solas dos velhos sapatos, como Charlot, ou vestir-se com a parra da mãe Eva, e, “mais vale prevenir do que remediar”, lá põe à mão os sapatos velhos disponíveis e as parras necessárias – é que 1+1=1 é apenas, no dizer de Almada Negreiros, a fórmula do amor.
   Mas, enorme alívio, o ministro vem à televisão com os novos preços: o arroz sobe 5 escudos e a gasolina 3. Afinal, pensa satisfeito o consumidor, dentro da mais irrefutável lógica, se atentarmos ao facto de, durante 15 dias, os preços propagandeados serem mais elevados, o arroz e a gasolina descem. E, eufórico e estonteado, guarda os velhos sapatos e devolve as parras ao seu habitat próprio… até se dar conta de que o que desceu, efectivamente, foi o volume da sua carteira.”

    Nota: Publicado no início dos anos 80, do século passado, no jornal Cardeal Saraiva, de Ponte de Lima. Qualquer semelhança com a realidade actual (falo das falas oficiais em diversas medidas anunciadas) é pura coincidência.

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