sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Só os tempos mudam?


     Há pessoas que tratam de forma obsessiva e empolada a desarrumação que vai na casa dos outros, talvez fiados de que enquanto nos atiram com os desajustamentos alheios nos esqueçamos de olhar para a forma desregrada e pouco justa que governa a nossa própria casa.
     E, como ouvi algures, uma omissão não é uma mentira, mas tão só uma ausência da verdade, essas pessoas sentem-se plenamente satisfeitas consigo  e fazem bandeira do apoio que dão à luta dos outros por uma vida melhor para abonarem o seu imenso humanismo.
     Quando raramente, por impossibilidade de ignorar, abordam as reivindicações, as queixas, daqueles que vivem e sentem ao seu lado, fazem-no com indiferença, esquivez, ou constroem contextos, conjunturas, crises, estratégias que permitam justificar e/ou apoiar a manutenção de tais situações, por mais aviltantes que elas se apresentem. Desta vez, porque não podem, não omitem: sofisticam o jogo e criam novas verdades. Mas continuam orgulhosos com o seu humanismo e voltam sempre à casa dos outros.

                 [Publicado, no Cardeal Saraiva n.º 2916, de 17 de Abril de 1981. A imagem não estava incluída]

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