Há pessoas
que tratam de forma obsessiva e empolada a desarrumação que vai na casa dos
outros, talvez fiados de que enquanto nos atiram com os desajustamentos alheios
nos esqueçamos de olhar para a forma desregrada e pouco justa que governa a
nossa própria casa.
E, como ouvi algures, uma omissão não é
uma mentira, mas tão só uma ausência da verdade, essas pessoas sentem-se
plenamente satisfeitas consigo e fazem
bandeira do apoio que dão à luta dos outros por uma vida melhor para abonarem o
seu imenso humanismo.
Quando raramente, por impossibilidade de
ignorar, abordam as reivindicações, as queixas, daqueles que vivem e sentem ao
seu lado, fazem-no com indiferença, esquivez, ou constroem contextos,
conjunturas, crises, estratégias que permitam justificar e/ou apoiar a
manutenção de tais situações, por mais aviltantes que elas se apresentem. Desta
vez, porque não podem, não omitem: sofisticam o jogo e criam novas verdades.
Mas continuam orgulhosos com o seu humanismo e voltam sempre à casa dos outros.
[Publicado, no Cardeal Saraiva n.º
2916, de 17 de Abril de 1981. A imagem não estava incluída]
Sem comentários:
Enviar um comentário