Neste dia, em 1972, subiu ao palco do
Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, o
Grupo de Teatro do Atlético Clube de
Campolide, Lisboa, com a peça A Vida do grande D. Quixote de La Mancha e do gordo
Sancho Pança[1],
que António José da Silva, vítima da Inquisição em 1739, aos 34 anos de idade,
tinha escrito baseada na obra de Miguel de Cervantes, agora numa dramaturgia de
Virgílio Martinho ensaiada por Joaquim Benite.
Quem quiser consultar o jornal Cardeal
Saraiva, de Julho a Dezembro do ano de 1972, lá encontrará a parte visível da razão
desse espectáculo que só a esclarecida persistência e o arrojo de Bernardo
Vilas Boas[2] conseguiu trazer até esta
vila, contando com a “boa vontade”[3]do então proprietário do
Teatro Diogo Bernardes, o Sr. Aurélio Fernandes, e o apoio de uma comissão que
constituiu com José Carlos Alves Pires Trigo, João Pires Galvão, Elisabete
Vilas Boas, José Ventura Rodrigues Marinho e Amândio de Sousa Dantas. A
propósito, vale a pena transcrever um excerto da carta que Bernardo Vilas Boas
escreveu, datada de 4 de Julho de 1972, dirigida ao director do jornal Cardeal
Saraiva, Dr. Alcides Pereira, que a fez publicar, repartida, nos n.ºs 2493 e
2494, do referido jornal, de 14 e 21 de Julho do mesmo ano: “o cinema e o
teatro são factores extremamente importantes para a evolução cultural das
pessoas – o que não exclui outros factores até mais importantes - …. Mas como
em tudo, também aqui há do bom e do mau, tanto no aspecto formal como no
conteúdo. A única forma de as pessoas adquirirem um espírito crítico consiste
em ver do bom e do mau, em participar em mesas-redondas, debates, colóquios,…etc.
…”[4]
A esta distância, e para os mais novos, o
que foi transcrito, as iniciativas em causa podem parecer normais. Engano. Na
altura, comportava sérios riscos. É dever dos que já cá andavam recordá-lo.
[1]
- A imagem aproveita um cartaz da peça e o texto dum anúncio publicado em, pelo
menos, dois números do jornal Cardeal
Saraiva.
[2] - Bernardo José Portela
Vilas Boas continua um cidadão atento e empenhado. Actualmente, como Presidente
da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, a sua voz faz-se ouvir
na defesa dum sistema de saúde com qualidade para todos.
[3]
- Cardeal Saraiva, n.º2.500, 08/09/1972.
[4]
- Cardeal Saraiva, n.º2.494, 21/07/1972.
1 comentário:
Lembro-me muito bem desta e doutras actividades culturais que se promoviam em Ponte de Lima e que eu adorava - eram uma lufada de ar fresco. E é verdade que corriam riscos, era uma aventura, a cultura sempre amedrontou o poder.
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