sábado, 8 de dezembro de 2012

UM PAUZINHO NA ENGRENAGEM



     
     Neste dia, em 1972, subiu ao palco do Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, o Grupo de Teatro do Atlético Clube de Campolide, Lisboa, com a peça A Vida do grande D. Quixote de La Mancha e do gordo Sancho Pança[1], que António José da Silva, vítima da Inquisição em 1739, aos 34 anos de idade, tinha escrito baseada na obra de Miguel de Cervantes, agora numa dramaturgia de Virgílio Martinho ensaiada por Joaquim Benite.
     Quem quiser consultar o jornal Cardeal Saraiva, de Julho a Dezembro do ano de 1972, lá encontrará a parte visível da razão desse espectáculo que só a esclarecida persistência e o arrojo de Bernardo Vilas Boas[2] conseguiu trazer até esta vila, contando com a “boa vontade”[3]do então proprietário do Teatro Diogo Bernardes, o Sr. Aurélio Fernandes, e o apoio de uma comissão que constituiu com José Carlos Alves Pires Trigo, João Pires Galvão, Elisabete Vilas Boas, José Ventura Rodrigues Marinho e Amândio de Sousa Dantas. A propósito, vale a pena transcrever um excerto da carta que Bernardo Vilas Boas escreveu, datada de 4 de Julho de 1972, dirigida ao director do jornal Cardeal Saraiva, Dr. Alcides Pereira, que a fez publicar, repartida, nos n.ºs 2493 e 2494, do referido jornal, de 14 e 21 de Julho do mesmo ano: “o cinema e o teatro são factores extremamente importantes para a evolução cultural das pessoas – o que não exclui outros factores até mais importantes - …. Mas como em tudo, também aqui há do bom e do mau, tanto no aspecto formal como no conteúdo. A única forma de as pessoas adquirirem um espírito crítico consiste em ver do bom e do mau, em participar em mesas-redondas, debates, colóquios,…etc. …”[4]
   A esta distância, e para os mais novos, o que foi transcrito, as iniciativas em causa podem parecer normais. Engano. Na altura, comportava sérios riscos. É dever dos que já cá andavam recordá-lo.



[1] - A imagem aproveita um cartaz da peça e o texto dum anúncio publicado em, pelo menos, dois números do jornal Cardeal Saraiva.
[2] - Bernardo José Portela Vilas Boas continua um cidadão atento e empenhado. Actualmente, como Presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, a sua voz faz-se ouvir na defesa dum sistema de saúde com qualidade para todos.
[3] - Cardeal Saraiva, n.º2.500, 08/09/1972.
[4] - Cardeal Saraiva, n.º2.494, 21/07/1972.

1 comentário:

Leonilde Vilas Boas disse...

Lembro-me muito bem desta e doutras actividades culturais que se promoviam em Ponte de Lima e que eu adorava - eram uma lufada de ar fresco. E é verdade que corriam riscos, era uma aventura, a cultura sempre amedrontou o poder.