A Vaca das Cordas em 1914
Ter-se-á realizado no dia de Corpo de Deus,
quinta-feira, 11 de Junho, repetindo, na marcação, o dia de semana do ano
anterior (talvez uma forma de melhor contornar o facto de, na sequência da
implantação da República, a lei ter deixado de considerar os dias santificados,
e assim incentivar, a nível local, a participação nas cerimónias
religiosas[1]).
O jornal Cardeal Saraiva, desse mesmo dia
(n.º 151)[2],
não achou piada à iniciativa, referindo que “logo deve exibir-se… por essas ruas
o bárbaro e repugnante espectáculo que dá pelo nome de Vaca das Cordas.” E, de
forma contundente, afirma que “enquanto as utilidades morrem renascem os
barbarismos!”. Para concluir, num rasgo de boa disposição: “e ontem houve
limpeza na Praça de Camões, naturalmente para o animalejo não sujar as patas!/
Achamos justo.”
[1]
- Em contrapartida, ao conceder às câmaras poderes para fixar um dia de feriado
por ano, escolhido entre os representativos das festas tradicionais e
características do concelho, autorizava que muitos deles nascessem com
fundamento em motivos religiosos. É também o caso do feriado de Ponte de Lima.
[2] - Não
nos foi possível consultar qualquer outra fonte. Quiçá, considerando o
habitual relato, o do jornal O Comércio do Lima não seja muito diferente. O que dizia o povo fica por revelar, mas esta oposição da imprensa, reflexo de outras preocupações e já manifestadas durante a Monarquia, parece ter servido para ir libertando a Vaca das Cordas de excessiva violência.
Nota:
Feriado Municipal: em sessão de 13 de Julho de 1911, a
Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Ponte de Lima, «deliberou
considerar feriado dentro da área do concelho, o dia 20 de Setembro, de cada
ano, por ser o de maior concorrência e luzimento das festas e feiras francas
tradicionais de Nossa Senhora das Dores, realizadas nesta vila nos dias dezanove,
vinte e vinte e um daquele mês». Em sessão de 17 de
Outubro de 1912, que transfere as feiras (novas) para 9, 10 e 11 de Setembro, o
feriado é alterado para o dia 10 de Setembro. Porém, a 2 de Setembro de 1915 é
decidido repor as feiras (novas) a 19, 20 e 21 de Setembro, regressando o
feriado ao seu dia inicial, 20 de Setembro. Agora goza-se na primeira
terça-feira a seguir às Feiras Novas.
Ilustração: Desenho de
João Almeida, in O Minho Pitoresco, de José Augusto Vieira, I Volume, 1886.
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