OS LIMIANOS NA GRANDE GUERRA - Luís Dantas*
Foi José Carlos de
Magalhães Loureiro (a 10 de Setembro de 2008, no blogue Anunciador das Feiras
Novas) quem, do que conheço, melhor revelou o trabalho de Luís Dantas, Os
Limianos na Grande Guerra, e o autor, com a honestidade e simplicidade que quem o percebeu lhe atribuiu como intrínseca, reconheceu e agradeceu.
Sendo uma obra onde
se equilibram o rigor histórico e o pendor literário, seria simplificar,
passados dez anos da edição, afirmar que, no que concerne aos “limianos”,
agora, o autor nos deixaria mais sumarenta narrativa, e, em mim, uma completa
desonestidade não desconhecendo que, já em 22 de Novembro de 2007, Luís Dantas
escrevia: “Não me foi possível fazer o levantamento da maior parte dos limianos
que foram mobilizados para as campanhas de África (1914-1918) e França. Esses
heróis estão sepultados no Arquivo Geral do Exército. Um Arquivo miserável. Só
dão informações por requerimento e mesmo assim tem de se levar o nome, a
naturalidade, a data do nascimento. Vão passar 100 anos sobre a guerra e a
história desses homens está desprezada. Uma vergonha. Só agora é que o arquivo
Histórico Militar está a colocar as fichas do C.E.P. com o nome e localidade no
computador. Fiz o que foi possível.” E, mais tarde, a 30 de Dezembro do mesmo
ano, Luís Dantas revelava: “Afinal sempre vou fazer o agradecimento a todos que
contribuíram para o livro… foi essa gente a minha principal fonte. Foi essa
gente que permitiu trazer à história o nome e o rosto de muitos soldados da
nossa terra…”.
Todos sabemos que é
hoje possível aceder a informação relevante com facilidade o que permitiria ao
autor uma “2.ª edição”- que anteviu mas, infelizmente, não pôde concretizar - praticamente
completa quanto aos nossos que participaram no conflito, mas não ignoramos que,
apesar de todas as dificuldades, também nesta vertente, Luís Dantas nos deixou
um trabalho de enorme dignidade e, no essencial, revelador. Sintetizando e concordando
com José Carlos de Magalhães Loureiro, a quem cito, “a partir deste trabalho,
deixa de haver “antigos combatentes limianos”, colectivo anónimo puramente
comemorativo.”
E isto sem prejuízo
de que, entre outros, também Adelino Sampaio, o último presidente da Câmara
Municipal de Ponte de Lima na 1.ª República, na sua qualidade de corresponde do
jornal O Primeiro de Janeiro e nesse jornal, de 6 de Maio de 1933, havia
recordado a participação local na 1.ª Grande Guerra, o que também fez, nos
aditamentos aos Anais Municipais de Ponte de Lima de Miguel Roque de Reis
Lemos, editados em 1938, Júlio de Lemos.
Como não podemos
ignorar que o armistício foi recebido em Ponte de Lima em festa, como nos
informa o jornal Cardeal Saraiva de 14 de Novembro de 1918 e, em 1921, aquando
do acolhimento nacional aos “soldados desconhecidos”, também na nossa
localidade existiram comemorações diversas sendo até efectuado o “lançamento da
primeira pedra para o monumento que a Câmara manda erigir aos soldados do
concelho mortos…”(CS 460, 1921.04.07). Ainda que a 7 de Abril de 1923, na sessão da Comissão Executiva da
Câmara, o Dr. Adelino Sampaio, então seu presidente, apresentou a seguinte
proposta: / … 1. Que se inscreva no primeiro orçamento suplementar a verba
necessária para mandar erigir no Largo de Dr. António de Magalhães…um Monumento
consagrado aos Mortos da Grande Guerra, segundo o projecto fornecido pela Junta
Patriótica do Norte; / 2. Que sejam inscritos num livro de Honra os nomes de
todos os oficiais e soldados deste concelho, que tomaram parte na Grande Guerra
– para o que solicitarão das entidades competentes as indispensáveis
informações./ 3. Que se inquira da situação económica não só dos soldados
sobreviventes, como das famílias dos já falecidos, afim de lhes ser prestada,
como dela precisem, a assistência devida, finalmente; 4. Que a Câmara tome a
iniciativa de abrir uma subscrição pública, cujo produto constituirá os dotes
dos filhos dos soldados deste concelho que morreram ao serviço da pátria.
Embora aprovado o certo é que em 1926, a 4 de Março era noticiado, em texto de
António da Baldrufa, ainda no jornal Cardeal Saraiva, n.º 677: “Foi já há alguns anos, por uma tarde luminosa, que se galardoou, condecorando
com a Cruz de Guerra um humilde soldado da Flandres… /…./ Foi igualmente nessa
mesma tarde de sol triunfante, após o Sr. Dr. Cândido da Cruz…então Governador
Civil do Distrito, ter colocado no peito do humilde herói a Cruz de Guerra, que
lançaram a primeira pedra para um padrão comemorativo das campanhas de África e
da Flandres, perpetuando o esforço dos soldados limianos nessa monstruosa
conflagração./ … Foram simultaneamente o baptismo e o de profundis dessa bela
ideia: a própria pedra foi levada não sabemos para que paradeiro…”/..e
acrescenta: “Quando o Dr. Adelino Sampaio assumiu a presidência do Município em
1923, oficiou para os párocos de todas as freguesias do concelho pedindo os
nomes dos combatentes mortos e várias outras informações. Pois até há muito
pouco tempo ainda não haviam chegado as elucidativas respostas. Este gesto de
indiferença é o mais categórico reflexo do desleixo colectivo por uma
iniciativa nobre e patriótica – a perpetuação do nosso maior esforço nos
últimos séculos./… /…”
Por último, importa
referir que, nessa campanha, sem cuidar de situar o legítimo posicionamento de
cada um, quer quando a causas, quer quanto a consequências, e sabendo que as
guerras afectam os que vão e os que ficam, é justo pedir atenção para mais um
nosso conterrâneo que terá contribuído para essa participação: Alfredo Cândido,
um dos nomes referidos como estando ligado à propaganda do CEP.
*Texto lido a 22 de Julho de
2018, na Feira do Livro de Ponte de Lima, aquando da iniciativa promovida pela
livraria ler.com.gosto.
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