segunda-feira, 11 de setembro de 2006

NO OMBRO O ORVALHO


É considerável a bibliografia de Amândio Sousa Dantas, iniciada em 1983 com "Sentimento de Ausência".
Neste novo título, com a chancela das Edições Ceres, o 11.º do autor, reforça-se o pendor filosófico da sua obra, deixando-nos, amiúde, versos de forte conteúdo, servidos com inegável imaginação poética.
Fiel aos seus princípios, continua a fazer da natureza - entendida como alma mater - a bitola moral de todos os comportamentos e sentimentos.
Com olhar contemplativo, pensando os enigmas, a certeza incerta, o tempo entre a semeadura que em nós, de nós, e por nós fazemos, aguardando, com o saber (não o sabendo) que colheita (d)aí advirá, abre-nos um espaço de angústia e esperança, de labuta e remanso, de confiança e receio, num derivar entre a alegria e a tristeza, mostrando-nos as variações permanentes de um mundo-ser em constante conflito, representando agora a máscara da tragédia e no instante seguinte a da comédia.
E por dentro de uma aparente nostalgia, saudosismo e pessimismo, fim de acto, fim de peça, irrompem, como renascer de fénix, panfletários, imparáveis, sarcásticos, os purificadores dardos e flechas, arremessados do arco de um mundo adormecido, mas não perdido, ferindo-nos o comodismo, as facilidades enganadoras de uma existência uniformizada, apelando à nossa lucidez e revolta.
Existe, talvez, demasiada generosidade nesta obra, o que lhe retira alguma unidade, mas isso não impede que ela seja, creio, de enorme valia.

1 comentário:

luís dantas disse...

O blogger está a melhorar. Muito boa a síntese sobre a última obra do Amândio Sousa Dantas.Abraços.