domingo, 21 de janeiro de 2007

A FEIRA DE PONTE (III)



Em texto, datado de 11 de Julho e publicado no jornal Cardeal Saraiva de 19 de Julho, e intitulado “Algumas Considerações Sobre o Problema da Feira”, o Presidente da Câmara, Alberto de Sousa Machado, responde a todos e informa que brevemente fará “uma reunião com as entidades responsáveis pelos interesses económicos do Concelho”.
Ao Conde d’Aurora diz que a feira franca tem a oposição de todo o comércio local e o município não pode perder a receita “que lhe tem permitido beneficiar no plano de fomento, com melhoramentos no valor aproximado de 600 contos anuais”, e que a “substituição da taxa de terrado pelo imposto de trabalho terá a oposição da Lavoura por mais gravoso que as actuais taxas e pelo seu carácter de obrigatoriedade geral que estas não têm”.
A Luís Pinto e Vasco Gonçalves acusa de demonstrarem “uma ingénua ignorância dos limites em que actua o Município”, ao sugerirem a diferença de tratamento entre feirantes locais e de fora do concelho.
Ao P.e José Augusto Alves afirma que não traz “nenhuma sugestão; apenas palavras”. E confessa-se espantado por encontrar um homem que se habituou a ver com os pés “bem assentes na terra”a vir à feira “com a cabeça no ar”. Verbera-o por enxergar ameias na ponte e por, “com muita pouca caridade e prudência cristã, taxar de erro o que foi uma medida necessária”, pois do primeiro plano de fomento1 o município não tirou nenhum benefício e a medida visou evitar que com o 2.º acontecesse o mesmo. Com dureza continua a acusar o P.e José Alves de demagogia, referindo que a medida já permitiu dotar 9 freguesias com estradas, com o custo de 1.650 contos que ficaram “na quase totalidade no Concelho e beneficiaram especialmente a Lavoura”, pagando esta, “para esse benefício, com a taxa criada, 158 contos”.
E, com agastamento, remata, referindo que a alegada “superioridade e “eloquência do testemunho visual” sobre os números” (um dos argumentos utilizados no texto do P.e José Augusto Alves, para refutar o alegado crescimento da feira, depois da introdução da taxa), “o Sr. mesmo se encarregou de a desmentir com as ameias que o seu testemunho visual deu à ponte!”.
Ao Cardeal Saraiva, acusando de argumentos “acacianos”, e de verdades a “Mr. de La Palisse”, reafirma a recuperação da feira do gado, após um primeiro decréscimo no seguimento da introdução da taxa, demonstrada pelo crescimento de 1960 para 1962, pois “o número de cabeças de gado aumentou 1120” .
Remata perguntando do porquê de só quatro anos depois de lançada a taxa se dar "pelos seus maléficos efeitos”.
E conclui, depois de mais uma vez vincar os seus argumentos e atacar os restantes, escrevendo que “é preciso deixar de olhar os problemas apenas pelo interesse imediato de cada um ou do exclusivo aspecto da maior simpatia pessoal, mas sim na relatividade de todas as suas facetas no ordenamento do interesse geral”.
De imediato o jornal, em “Nota do Director”, refuta as acusações, que o Presidente da Câmara lhe faz, e reafirma o seu apoio aos que contestam a taxa de terrado, escrevendo: “ACABE-SE COM O IMPOSTO DA FEIRA DO GADO”.
Sai, ainda, em defesa de Luís Pinto e Vasco Gonçalves, sustentando, segundo a sua avaliação, a possibilidade de aplicação de impostos diferenciados pois “a lei permite que se tributem todos os feirantes. Nela não se diz que se tributem todos ou nenhuns. O serem todos ou só determinado sector deixa a lei ao critério do seu executor”.

1- O 1.º Plano de Fomento vigorou de 1953 a 1958. O segundo, de 1959 a 1964. Outros se lhe seguiram.

[Pormenor de fotografia da autoria do Conde d'Aurora, extraída de Vieira, Amândio de Sousa - Feiras Novas 1826-2006]

(continua)

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