Regressa ao assunto o jornal Cardeal Saraiva, em 26 de Julho de 1963, referindo ter “consciência segura de que o ponto de vista da modificação do vigente regime tributário da feira que vimos defendendo, corresponde aos reais interessas da vila e concelho.” E apelando para que esse seja o único objectivo do movimento gerado pela publicação do texto do Conde d’Aurora, pede para se esquecer “cada um de si mesmo”, e todos se concentrem no “ideal superior desta campanha: reposição da feira na sua tradicional grandeza em harmonia com os interesses do comércio local e economia de todos os habitantes do concelho”.
O Padre José Augusto Alves manifesta, na mesma data, o seu forte desagrado pela forma como o Presidente da Câmara lhe respondeu, dizendo que o mesmo desceu “à chicanice, ao insulto”, ao contrário de, como ele, tratar o assunto com elevação. E, desfiando um rosário de queixas, diz–lhe que ele “preferiu descer a um campo” onde “não o pode acompanhar”.
Refuta a demagogia que o Presidente da Câmara lhe tinha atribuído, interroga se foram, de facto, os 158 contos de imposto que permitiram o acesso aos benefícios do plano de fomento e que, a ser verdade, “mesmo assim falta demonstrar se esse dinheiro compensaria os prejuízos causados à lavoura limiana e ao comércio (...)”.
Chama a atenção da extrema dificuldade, dos lavradores que persistem em vir à feira, em conseguir o dinheiro para o imposto, recorrendo a empréstimos e, “se não vende é, quantas vezes, a mulher que tem que pagar da meia dúzia de ovos”.
A “Gazetilha”, de 26/7/1963, é novamente dedicada, por “Noviço”, à questão do imposto do gado e, a 9 de Agosto, no número 2055 do “Cardeal Saraiva”, regressa o Padre José Augusto Alves que, para além de voltar a mostrar dúvidas quanto à relação imposto, acesso aos benefícios do plano de fomento, e de defender “a sua classe”, apresenta uma proposta: que se suspenda o imposto “durante dois meses, ou seja até passarem as Feiras Novas”, continuando-se a contagem do gado. Depois, faça-se o confronto e “se o aumento for sensível, estude-se a maneira de o substituir”.
Aproveita, ainda, para condenar o policiamento a controlar, nos dias de feira, as entradas na vila, por causa do imposto.
Volta à carga o Presidente da Câmara, Coronel Alberto de Sousa Machado, a 16 de Agosto, alinhando uma série de considerações, manifestando o seu entendimento de que “o progresso e o desenvolvimento económico da nossa Vila e Concelho” só é alcançável com a industrialização e de que, para isso, é necessário a “existência prévia de uma infra-estrutura que o nosso Concelho ainda não tem: Uma completa rede de boas estradas e energia eléctrica com boa e geral distribuição; e a coroar essa infra-estrutura, um ensino de fácil acesso a todos, especialmente técnico.”
Afirma ser esse o caminho que a Câmara Municipal tem perseguido, mas que, “com excepção da sua acção na rede de estradas, não tem sido compreendida por certo sector local. A instalação da Escola Técnica criada por um esforço seu , tem encontrado dificuldades localmente criadas; e à extensão da rede de energia eléctrica ao Concelho foram, também aqui, levantados embaraços.”
Cita Marcelo Caetano, para explicar os fundamentos dessa oposição, e, virando para a feira, dá o exemplo da facilidade de comunicações, com as suas vantagens, para exemplificar os prejuízos provocados a “sectores mais agarrados à rotina” e a sua consequente tentativa de criação de dificuldades. Diz que, em dias de feira, “chegam e partem da nossa vila” 235 carreiras regulares de camionagem, a que há a acrescentar “o das carreiras chamadas de fanico de número variável, mas que em média podemos considerar de 78 (13 autocarros a 6 viagens)”, o que “permite ao habitante de todas as nossas aldeias vir com a maior facilidade à feira e voltar a casa com o dispêndio, apenas, de algumas poucas horas, ao contrário do que acontecia antigamente quando o dia era para a feira; aqui está a causa real do facto de que se queixam alguns comerciantes: “o homem do campo não vai aos restaurantes” no dia de feira.”
Continua, acusando “certo sector do comércio local” que à Câmara tem feito chegar “pedidos no sentido de se opor à proliferação das carreiras de camionagem!”.
E imputa a esta “modificação das condições de vida das classes rurais”, as alterações das características da nossa feira.
Em P.S., o Coronel Machado, refuta as últimas afirmações do Padre José Alves, reafirmando a caracterização de demagógicas que, anteriormente, tinha atribuído às suas posições.
[Fotografia de Amândio de Sousa Vieira - Feiras Novas 1826-2006]
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário