José Augusto Vieira (1856-1890), na sua famosa obra, em 2 volumes, publicados em 1886 e 1887, refere-se à Vaca das Cordas:
“A matriz está sob a invocação de Santa Maria dos Anjos e é a sede da paróquia única da vila. Na sua frontaria, quase ao rés-do-chão, está uma janela com grades de ferro, que recorda para quem é de Ponte o singular e bárbaro costume da corrida da vaca, na véspera de Corpus-Christi. Existe desde séculos remotos a usança, e difícil será que o povo prescinda da sua vaca das cordas nesse dia. Pelas três horas da tarde prendem o pobre animal pelas pontas aos varões de ferro da janela, e durante uma hora aí o vai açular o rapazio, espancando-a e atordoando-a com assobios e apupos. Findo esse tempo desligam as cordas das grades da janela, e dois homens, cada um com a corda que prende uma das hastes do animal, fazem-no correr três vezes em volta da matriz, e acto seguido aguilhoam-no e avançam com ele pela Rua de S. José até ao passeio e areal próximo da ponte. O povo acumula-se nesses lugares para ver passar a vaca, e se acontece que o animal atropela alguém ou com ele investe, o regozijo é geral, o aplauso corre com algazarra na multidão; se nenhum desastre, se nenhum incidente, porém, sucede, pinta-se o desalento na fisionomia de todos;
- Oh! Este ano a vaca não prestou! Comentam tristemente.
É antigo o costume, dissemos, e disso dá prova ser ainda hoje o município que paga a qualquer marchante uma gratificação para ceder a vaca para a corrida, sendo nos tempos do velho sistema obrigados os moleiros do concelho a ministrar, à vez, para esse fim, o manso e pacífico animal.”
“A matriz está sob a invocação de Santa Maria dos Anjos e é a sede da paróquia única da vila. Na sua frontaria, quase ao rés-do-chão, está uma janela com grades de ferro, que recorda para quem é de Ponte o singular e bárbaro costume da corrida da vaca, na véspera de Corpus-Christi. Existe desde séculos remotos a usança, e difícil será que o povo prescinda da sua vaca das cordas nesse dia. Pelas três horas da tarde prendem o pobre animal pelas pontas aos varões de ferro da janela, e durante uma hora aí o vai açular o rapazio, espancando-a e atordoando-a com assobios e apupos. Findo esse tempo desligam as cordas das grades da janela, e dois homens, cada um com a corda que prende uma das hastes do animal, fazem-no correr três vezes em volta da matriz, e acto seguido aguilhoam-no e avançam com ele pela Rua de S. José até ao passeio e areal próximo da ponte. O povo acumula-se nesses lugares para ver passar a vaca, e se acontece que o animal atropela alguém ou com ele investe, o regozijo é geral, o aplauso corre com algazarra na multidão; se nenhum desastre, se nenhum incidente, porém, sucede, pinta-se o desalento na fisionomia de todos;
- Oh! Este ano a vaca não prestou! Comentam tristemente.
É antigo o costume, dissemos, e disso dá prova ser ainda hoje o município que paga a qualquer marchante uma gratificação para ceder a vaca para a corrida, sendo nos tempos do velho sistema obrigados os moleiros do concelho a ministrar, à vez, para esse fim, o manso e pacífico animal.”
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