segunda-feira, 10 de março de 2008

"A BANDEIRA" DE DELFIM GUIMARÃES

Delfim Guimarães, que Roque Gameiro, numa célebre aguarela, incluiu entre os 161 mais destacados republicanos, também contribuiu para um dos primeiros confrontos públicos, logo após a implantação da República, entre as diversas tendências do recente regime: a escolha da nova bandeira.
No meio de variados projectos, diversificada argumentação e muita polémica, destacando-se Guerra Junqueiro, um dos defensores da manutenção do azul e branco, e Columbano Bordalo Pinheiro, distinto elemento da comissão que o Governo Provisório se viu forçado a nomear, para dirimir a questão, e deu preferência às cores verde e vermelho, foram aparecendo algumas propostas chamadas de conciliação.
Segundo Nuno Severiano Teixeira, com quem, a partir daqui, vos deixo e que vai incluindo no seu texto citações de Delfim Guimarães, «entre os vários projectos conciliatórios merece um destaque especial, tanto pela coerência da sua justificação teórica como pelo seu equilíbrio e harmonia estética, o projecto do poeta Delfim Guimarães, cuja execução gráfica pertenceu ao pintor Roque Gameiro.
Partindo da impossibilidade do restabelecimento da bandeira azul e branca e das críticas violentas feitas ao projecto da comissão (já que as cores revolucionárias escolhidas - verde-vermelho - "são cores complementares e absolutamente antagónicas"), procuram uma outra bandeira de conciliação, mas totalmente diversa das anteriores. E o resultado é tanto mais surpreendente quanto, sendo esteticamente mais correcto, dizia-se, era mais coerente com o relatório da comissão do que o seu próprio projecto.
À cor branca, cor nacional por excelência - que o relatório da comissão afirma não poder desaparecer da bandeira da República e acaba por banir -, juntam Roque Gameiro e Delfim Guimarães as cores revolucionárias verde e vermelho, dispostas em três barras horizontais: uma vermelha, em cima, uma branca, ao centro, de maior dimensão, e uma verde, em baixo.
O branco, além de atenuar "a crueza das cores verde e vermelha", admite que nele assente com maior harmonia plástica a esfera armilar e o escudo das quinas, que, para evitar outra "insignia", sem quebrar o equilíbrio, terminava em bico.
Assim, "com esta disposição mantêm-se na bandeira portuguesa as duas cores simbólicas da bandeira republicana, aliadas à antiga cor do pavilhão nacional"».

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