quinta-feira, 13 de março de 2008

O HOMEM QUE MUDOU DE COR

Foi em 1935. O actor Samwel Dinis decidiu formar a Companhia Dramática Portuguesa e, para peça de estreia, escolheu o inédito de Reinaldo Ferreira (Repórter X), “O Homem que mudou de cor”, que o autor adaptou a partir da sua antiga novela “Preto e Branco”.
A peça, em 4 actos e 6 quadros, tratava das dificuldades de integração de um negro rico, confrontado com o preconceito rácico, frustrado com a ingratidão, os abusos e as traições a que se via sujeito e que, por isso, convencido de que todos os seus problemas estavam na sua cor de pele, conseguiu que um homem de ciência lhe a mudasse, em segredo.
A partir daí, iniciou uma vingança contra todos aqueles que o estigmatizavam e dele se aproveitavam. Mas, a mulher que ele amava confessou-lhe a sua indisponibilidade, por ainda ter no coração o homem que ele deixara de ser. A ciência não tinha meios para reverter as transformações a que o tinha sujeitado. Finalmente, e porque, apesar das mudanças físicas, ele continuava, no fundo, o mesmo homem, a união dos dois acabou por concretizar-se.
Para colocar no palco do Teatro S. Luiz, em Lisboa, a peça, encenada por Carlos Santos, com a direcção artística de Samwel Dinis e cenários de Sousa Mendes, foi necessário o concurso de muitos actores que, a exemplo do protagonista Samwel Dinis, o homem que mudou de cor e personalizou Edgar de Lencastre, também, todos os outros intérpretes, deram o nome e se adaptaram às respectivas personagens. Clemente Pinto foi o Dr. Adolfo Helder; Tarquínio Vieira, Carlos Zolnaga; Francisco Ribeiro/Ribeirinho vestiu-se de Cohen, judeu arruinado; Henrique de Albuquerque foi um empresário; José Azambuja, Gastão de Castro; Carlos Santos, Henrique Almada; Seixas Pereira, Eduardo; Alberto Reis, Miguel de Melo; José Monteiro, Horácio Manselmo; Constantino de Carvalho foi o Director do Casino; João Lopes, o Comissário da Polícia; Rebelo de Almeida, Fausto; José Alves o “Croupier”; Manuel Guerra o criado; Aura Abranches, Maria de Lourdes; Adelina Campos, Marta (a do amor do homem que mudou de cor); Amélia Pereira, Mariana; Constança Navarro, Leonor; Aurora Dubini, Eva e Lina Tavares, a cliente.
Apesar da fama do autor, e do grupo apreciável de actores, a peça só permaneceu em cena de 12 a 15 de Julho. Também Reinaldo Ferreira (Repórter X) pouco mais viveria: a 4 de Outubro vem a falecer aquele que Ferreira de Castro considerou, “no seu género, um dos maiores e mais originais jornalistas da Europa”*

*- “O diabo”, n.68, 13 de Outubro de 1935.

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