sábado, 31 de agosto de 2013

As Feiras Novas em Revista


AS FEIRAS NOVAS EM REVISTA

José Sousa Vieira





     Há três publicações anuais dedicadas às feiras que desde 1826 se realizam em Ponte de Lima associadas aos festejos a Nossa Senhora das Dores[1], todas de iniciativa estranha à organização das mesmas, a merecerem lugar na história da imprensa local.
     Em 1926, ano de comemoração dos 100 anos das Feiras Novas, mas na realidade correspondendo aos 101 da sua efectivação (importa relembrar, com ou sem festejos, não existe notícia de qualquer ano de não realização destas feiras), surgiu o O Arauto das Feiras Novas, iniciativa de Eduardo de Castro e Sousa. O último, que conhecemos, corresponde ao 13.º, foi editado em 1938, ano da inauguração, em Ponte de Lima, do monumento ao poeta António Feijó, a obter, na revista, o devido destaque:
    “E Ponte de Lima, a terra natal do Poeta e de outros vates ilustres, consagra-o, com saudade, no monumento de iniciativa da nossa Municipalidade, ali erigido na Praça da República, belo desenho do arquitecto Paulo Carvalho Cunha, apreciável obra de granito, executada sob a direcção de José Manuel Lopes e seus operários da terra do insigne poeta António Feijó, e aonde assenta um admirável busto de bronze, trabalho do Mestre Teixeira Lopes (…) ”.
     Em 1947, o recentemente regressado Augusto de Castro e Sousa, que em Lisboa vivera vários anos, segue o exemplo de seu pai, troca a palavra arauto, e dá à estampa o O Anunciador das Feiras Novas. Este primeiro anunciador, que o responsável em carta a Alberto do Vale Loureiro afirma lhe ter infligido “penosos sofrimentos”, teve vida curta. Termina no número 2, em 1948 e, curiosamente, disso já não se recordava Augusto de Castro e Sousa, em 1984, na epístola a Alberto do Vale Loureiro,  narrando ter saído “um único número”, esquecendo que, em 1948, tinha escrito no seu anunciador, por exemplo e referindo-se às Feiras Novas: «as tocatas – e são às centenas as que vêm à festa – ferem o espaço e oferecem aos nossos distintos hóspedes tudo quanto somos de simples e de bons.»
     E por ser simples e bom, genuíno, Alberto do Vale Loureiro, confessadamente um homem gostando “das coisas que falam, mexem, fazem progredir e elevar Ponte de Lima”, decidiu retomar o O Anunciador das Feiras Novas, gesto de estima pelo seu Mestre de Artes Gráficas, Augusto de Castro e Sousa, pois outro título, se a vaidade se sobrepusesse ao coração, não lhe estava interdito.
     (Re)surge desta forma, a partir de 1984, o O Anunciador das Feiras Novas, em II Série, afectiva, generosa, que, fruto dos tempos e da possibilidade dos homens, apresenta um cunho histórico e cultural predominante, aflorados nas modestas publicações anteriores, não obstante, como naturalmente acontece em edições do tipo, acolher diversificada colaboração, alguma da qual só as necessidades editoriais e, estamos convictos, a referida bondade do coordenador justifica.
    Sendo, desde o n.º 3, de 1986, propriedade da actual Associação Empresarial de Ponte de Lima, completa, neste ano de 2013, o 30.º aniversário. Pelo índice da revista, que meticulosamente José Carlos de Magalhães Loureiro organiza, é possível constatar que, com assiduidade diversa, já colaboraram em O Anunciador 85 autores, um deles, Adelino Tito de Morais, em todos os números.





[1] - Existe, por vezes, alguma confusão quanto às feiras (novas) e à festividade. De facto, as feiras, três dias, autorizadas pela Chancelaria de D. Pedro IV, por Provisão de 5 de Maio de 1826, e interpretando livremente extracto da referida provisão, foram solicitadas para se conservar o culto a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem, para promoção da piedade cristã, tinha sido colocada na Igreja Matriz da vila de Ponte e Lima e era festejada no mês de Setembro. Assim, antes das feiras (novas) já existiam, em Ponte de Lima e na sua Igreja Matriz, festejos a Nossa Senhora das Dores, cujo retábulo remonta a 1729.

Fontes:
- Loureiro, Alberto do Vale, 25 anos, Em segunda série, O Anunciador das Feiras Novas, 2008.
- Loureiro, José Carlos de Magalhães Loureiro, Índice da Revista “O Anunciador das Feiras Novas” (1984-2013), O Anunciador das Feiras Novas, 2013.
- O Anunciador das Feiras Novas, Ano II – Setembro de 1948, N.º 2.
- O Arauto das Feiras Novas, Ano 13.º, 1938.
- Vieira, Amândio de Sousa, Feiras Novas, 1826-2006, Foto Lethes, Ponte de Lima, 2006.
- Vieira, José Sousa, As Feiras Novas em Revista, Limiana – Revista de Informação, Cultura e Turismo, Ano II, N.º 10, Dezembro de 2008.
 - Vieira, José Sousa, A Imprensa das Feiras Novas, O Anunciador das Feiras Novas, 2007.

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