Tenho sérias reservas naquela em que muitos querem ver a solução dos nossos problemas: um país com menos órgãos de
soberania tutelados por partidos.
E as reservas advêm de se me afigurar que essa
substituição, ainda que não aparecendo como imposta, acabaria por ser comandada,
na sombra, por aqueles que começam a constatar que pode estar a fugir de alguns
partidos o controlo que lhes têm permitido sustentar os seus benefícios.
Ou seja, receio que embarcaríamos em perigosa
ilusão, pois o que substituiria o espaço dos partidos, não emanando de uma
genuína intervenção cívica, continuaria a depender e a defender, no fundo,
ainda com maior dissimulação, os mesmos particulares interesses.
Por mim, prefiro que partidos sejam reformados
ou substituídos por outros que saibam respeitar a vontade e as conveniências do
povo, corrigindo os desvios e os muitos danos que os homens ao serviço de
minoritários grupos nos têm infligido.
Parece-me que advogar, impensadamente, a ocupação do espaço
dos partidos (e ela é possível já, e muito bem, por via eleitoral, na
Presidência da República e também, fora do âmbito dos órgãos de soberania, nas Autarquias), como normal, em todos os órgãos de
poder, quiçá sem programa definido e de responsabilização muito limitada, em que uma simples mudança de nome sanaria possíveis descontentamentos, é,
nos mais velhos, um triste exercício de falta de memória, e, nos mais novos, uma
prova de desconhecimento histórico, correndo Portugal o risco de se afundar,
por exemplo, numa espécie de Estado Novo, com muitas atrocidades políticas e
ainda mais gravosas condições económicas e sociais.
José Sousa Vieira
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