quinta-feira, 26 de maio de 2016

À moda do Minho

Histórias do Lima

José Sousa Vieira


Em Dezembro do ano de 1903, durante a visita de D. Afonso XIII, Rei de Espanha, e integrada nos festejos, então organizados, parte de Lisboa iluminou-se, na noite de domingo, dia 13, à moda do Minho.
     D. João da Câmara (Ocidente, n.º 899) escreveu que poucos iriam ao baile e jantares do paço; só os mais felizes arranjariam lugar para a toirada e quase igual a uma sorte grande era uma cadeira para a récita de S. Carlos. A desforra dos humildes estava nas faladas iluminações.
    E essas iluminações deram mesmo muito falar, principalmente as oriundas do norte: as da praça do Marquês do Pombal, à moda de Ponte de Lima (e a elas ligadas vai-se por aqui, através dos tempos, mencionando o nome de Gonçalo Pereira); na Avenida as de Santo Tirso e na Praça dos Restauradores as de Viana do Castelo. Resume o agrado o Diário Ilustrado (n.º 11060, 14 de dezembro de 1903) referindo que qualquer dos três sistemas deslumbrava a vista da grossa massa de povo que enchia aquele vastíssimo terreno…
   E nem Rafael Bordalo Pinheiro, mais tarde verberando o tratamento dado aos iluminadores nortenhos (que esta pequena notícia do Diário Ilustrado, n.º 11064, explica e corrobora: os pobres trabalhadores de Viana do Castelo, que estiveram quinze dias em Lisboa, preparando as iluminações da Avenida da Liberdade, continuam a pedir o que se lhes deve, afim de poderem regressar às suas terras), antecipando e caturrando o êxito, as deixou de evocar entre as suas mordazes ilustrações, como podem verificar (A Paródia n.º 48, de 10 de dezembro de 1903).

(Publicado na revista Nova Limiana, n.º 45, ABR/MAI/JUN 2016)
  

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