« S Ó »
Em Março de 1968 foi publicada,
com a presente epígrafe, uma composição poética de Luís de Sousa Dantas, parece-me
uma oração-catarse, em que a figura literária de António Nobre (1867-1900), e o seu único livro difundido durante
a sua curta vida física (a tuberculose derrotou-o aos 32 anos), são a totalidade.
Anto (que o carinho ou a preguiça da jovem inglesa Charlote para sempre lhe
associou ao nome), Carlota, contributo para o seu crescimento físico e místico,
e Purinha (Margarida de Lucena), sustentam o vínculo.
Importa relembrar que Luís Dantas assinou
algumas das suas poesias com o pseudónimo Só, do que lhe conheço, a partir de
meados de 1966, em 1967 e 1968. Depois deste poema, abaixo transcrito, em que
Só passou a título, não sei de outro qualquer trabalho literário em que o tenha
usado.
CATEDRAL de Saudade onde reza Anto
Alma de mágoas, luto, desesperanças!
Sua Santa, a Virgem, é Purinha (Encanto!
Sonho! Adoração de negras tranças!)
E Carlota, a Velhinha, acende as velas
No Altar, e chora, e promete novenas
E o seu menino de olhos baços nelas
Junta suas mãos, de Amor, e reza as penas!
Ninfas do Sol Poente, cantai Saudades!
Oh! Abri o Só! Silêncio! Tende piedade!
Ajoelhai! Rezai melancolias de Anto!
Tomai desse rosário (O Só) Orai! Orai!
Avé-Marias de Dor, Saudade e Pranto!
Orai! «Avé-Maria…» Oh Ninfas!... Chorai! Chorai!
(Março de 1968, Luís de Sousa Dantas)
José Sousa Vieira
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