sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Os Turcos de Crasto – há 100 anos.



Os Turcos de Crasto – há 100 anos. [e no próximo domingo, conforme ilustração]

      Ao que parece estava prevista a exibição dos Turcos de Crasto durante os festejos ao Senhor da Cruz de Pedra realizados, no lugar de Crasto da freguesia da Ribeira, em Ponte de Lima, em 12 e 13 de Agosto de 1916. 
     Pelo menos, disso estava convicto, como gazetilheiro, Zé de Crasto, que em duas das seis quadras alusivas aquela festa não o deixa de referir: «É a festa da «Cruz de Pedra»,/ Onde há «combate guerreiro»,/Duas músicas das boas/ E um hábil fogueteiro.»; «E p´ró combate dos «turcos»,/Que se vai realizar,/ Nos «tais sapatos de seda» / ‘Stá Linhares a trabalhar.»[1]
     Passada a festa, confirma-se que o Zé de Crasto não estava apenas a alargar o lastro à sua criatividade. Como prova, pela ironia dos «Bilhetes Postais»[2], a revelação de «os motivos da inesperada supressão» se deverem ao conselho do morador do lugar, de nome Constantino, «homem lido, ponderado», que, «visto as taponas que os turcos estavam levando no Cáucaso, não achava prudente que eles se exibissem em Crasto, para evitar conflitos numa nação beligerante!»
    No ano seguinte, 1917, não quiseram, os de Crasto, submeter-se às ironias de papel e, após cerca ou dez anos de interrupção, trouxeram, se estiverem bem as contas, a sua Turquia, pela primeira vez, ao Portugal da República.
    «O programa da festa anuncia os turcos contra os cristãos, que um bando de tipos trajados de centuriões confirmou ruidosamente na última segunda-feira falando às turbas – e há-de lá cair o mundo em peso no próximo domingo»[3], escrevia-se, apelando a Júlio Dinis, e aos seus Fidalgos da Casa Mourisca, citando-os, para intelectualizar o assunto: «e hoje ainda, nas danças e jogos que se celebram nos lugares públicos das vilas e aldeias, por ocasião das principais solenidades do ano, apraz-se a memória do povo de recordar os factos daqueles tempos históricos por meio de simulados combates de mouros e cristãos».
     E coube a Tudela de Vasconcelos[4], numa prosa afectada, confirmar que se realizou, em 12 de Agosto desse ano, «pela tarde alta a exibição do combate de cristãos e turcos, um agrupamento de indivíduos mais ou menos espadaúdos, do sítio, enfardelados em roupagens de veludilhos lantejoulados, reluzentes, mirabolantes, duma aparência exótica, pantomina esta a que o povo acha muito sabor, muita pilhéria. / E depois… sob uma chuva miudinha – a debandada das multidões a pé, a cavalo, em carros, em automóveis!...»
    Do que não nos fala é do teatro, anunciado para o dia anterior: «às 23 horas, num palco improvisado, serão representados por exímios amadores do lugar duas engraçadas comédias – O perdão d’acto e Um dentista»[5]. Como nos ficou por confirmar se, no ano anterior, sempre passou a presente o «Haverá também teatro/ Onde o grande «Sancho Pança» / Dará com sabedoria/ Um concerto d’harpa e dança.»[6], revelando uma particular apetência para a arte cénica dos nossos “Turcos de Crasto”.
   




[1]  - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 253, 03 de Agosto de 1916.
[2] - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 255, 17 de Agosto de 1916.
[3] - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 300, 09 de Agosto de 1917.
[4] - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 301, 16 de Agosto de 1917.
[5] - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 300, 09 de Agosto de 1917.
[6] - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 253, 03 de Agosto de 1916.

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