Os Turcos de Crasto – há 100 anos. [e no próximo domingo, conforme ilustração]
Ao
que parece estava prevista a exibição dos Turcos de Crasto durante os
festejos ao Senhor da Cruz de Pedra realizados, no lugar de Crasto da freguesia
da Ribeira, em Ponte de Lima, em 12 e 13 de Agosto de 1916.
Pelo
menos, disso estava convicto, como gazetilheiro, Zé de Crasto, que em
duas das seis quadras alusivas aquela festa não o deixa de referir: «É a festa
da «Cruz de Pedra»,/ Onde há «combate guerreiro»,/Duas músicas das boas/ E um
hábil fogueteiro.»; «E p´ró combate dos «turcos»,/Que se vai realizar,/ Nos «tais
sapatos de seda» / ‘Stá Linhares a trabalhar.»[1]
Passada a festa, confirma-se que o Zé de
Crasto não estava apenas a alargar o lastro à sua criatividade. Como prova, pela
ironia dos «Bilhetes Postais»[2], a revelação de «os
motivos da inesperada supressão» se deverem ao conselho do morador do lugar, de
nome Constantino, «homem lido, ponderado», que, «visto as taponas que os turcos
estavam levando no Cáucaso, não achava prudente que eles se exibissem em
Crasto, para evitar conflitos numa nação beligerante!»
No ano seguinte, 1917, não quiseram, os de
Crasto, submeter-se às ironias de papel e, após cerca ou dez anos de
interrupção, trouxeram, se estiverem bem as contas, a sua Turquia, pela
primeira vez, ao Portugal da República.
«O programa da festa anuncia os turcos
contra os cristãos, que um bando de tipos trajados de centuriões confirmou ruidosamente
na última segunda-feira falando às turbas – e há-de lá cair o mundo em peso no
próximo domingo»[3],
escrevia-se, apelando a Júlio Dinis, e aos seus Fidalgos da Casa Mourisca,
citando-os, para intelectualizar o assunto: «e hoje ainda, nas danças e jogos
que se celebram nos lugares públicos das vilas e aldeias, por ocasião das
principais solenidades do ano, apraz-se a memória do povo de recordar os factos
daqueles tempos históricos por meio de simulados combates de mouros e cristãos».
E coube a Tudela de Vasconcelos[4], numa prosa afectada, confirmar
que se realizou, em 12 de Agosto desse ano, «pela
tarde alta a exibição do combate de cristãos e turcos, um agrupamento de
indivíduos mais ou menos espadaúdos, do sítio, enfardelados em roupagens de
veludilhos lantejoulados, reluzentes, mirabolantes, duma aparência exótica,
pantomina esta a que o povo acha muito sabor, muita pilhéria. / E depois… sob
uma chuva miudinha – a debandada das multidões a pé, a cavalo, em carros, em
automóveis!...»
Do que não nos fala é do teatro, anunciado para o dia anterior: «às 23 horas, num palco improvisado, serão representados
por exímios amadores do lugar duas engraçadas comédias – O perdão d’acto e Um
dentista»[5]. Como nos ficou por
confirmar se, no ano anterior, sempre passou a presente o «Haverá também teatro/
Onde o grande «Sancho Pança» / Dará com sabedoria/ Um concerto d’harpa e dança.»[6], revelando uma particular
apetência para a arte cénica dos nossos “Turcos de Crasto”.
[1] - Jornal Cardeal Saraiva, n.º 253, 03 de
Agosto de 1916.
[2]
- Jornal Cardeal Saraiva, n.º 255, 17 de Agosto de 1916.
[3]
- Jornal Cardeal Saraiva, n.º 300, 09 de Agosto de 1917.
[4]
- Jornal Cardeal Saraiva, n.º 301, 16 de Agosto de 1917.
[5]
- Jornal Cardeal Saraiva, n.º 300, 09 de Agosto de 1917.
[6]
- Jornal Cardeal Saraiva, n.º 253, 03 de Agosto de 1916.
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