NO CENTENÁRIO DE AUGUSTO DE CASTRO E SOUSA
Foi em Braga,
a 30 de Abril de 1915, que Augusto Amorim de Castro e Sousa nasceu. Seus pais,
Eduardo de Castro e Sousa, bracarense e gráfico, e Laura Caldas de Amorim,
ponte-limense e modista, habitualmente residentes em Ponte de Lima, estavam,
então, a habitar naquela cidade.
Em Ponte de
Lima pronunciou as primeiras palavras, deu os passos iniciais e alinhou os
estreados caracteres. Na escola teve como um dos seus professores Caetano de
Oliveira, que recordou, em texto de 1959, como “o mestre amado, que mesmo
depois de cego, ainda conseguiu levar a exame centenas de alunos com as mais
altas classificações” e “ensinava não só a ler, escrever e contar, como a
raciocinar”.
Orientado pelo progenitor, proprietário de
uma pequena oficina tipográfica e editor e director do jornal “Rio Lima”,
começou a aprendizagem profissional e revelou os dotes jornalísticos. A sua
inaugural colaboração na imprensa, no ano de 1931, está inserta nesse
periódico, com o pseudónimo “Esparza”, e relata o jogo de futebol entre o Sport
Clube Vianense e o Ponte de Lima Sport Club, realizado no dia de S. João.
Em meados dos
anos 30 rumou a Lisboa, onde aprofundou os conhecimentos, nomeadamente ao
serviço da Tipografia Pinheiro & Dias, e reforçou o interesse pelas questões
políticas, propiciadas pela sua formação no seio de uma classe progressiva, que
tinha como uma das principais referências Alexandre Vieira, com quem
desenvolveu constantes contactos e laços de amizade.
Regressou a
Ponte de Lima, em 1947, e, a partir dessa data, aqui e daqui manteve intensa
actividade, como gráfico e publicista com acentuadas preocupações sociais e
culturais e participação directa em associações, de diversa natureza,
integrando os corpos sociais de muitas delas. O seu nome está, por exemplo,
ligado à institucionalização da banda de música de Ponte de Lima (Grupo de
Cultura Musical), em 1951, e, como mestre, à Escola Tipográfica da Oficina de
S. José.
Utiliza, pelo
menos, os nomes de “Augusto de Castro e Sousa”, “Augusto de Sousa”, “A. Castro
e Sousa”, o acrónimo “A.C.S”. e os pseudónimos “Esparza”, “Repórter Visão”, “C.”,
“A.C.” e “Cícero”, nas notícias para, entre outros, o “Cardeal Saraiva”, “Gazeta
do Sul”, “O Jornal de Felgueiras”, “Cícero”, “Os Ridículos”, “A Bola”, “Notícias da Amadora”,
“A Aurora do Lima”, “República” e “Diário de Notícias” e com indignação viu por
diversas vezes a censura retalhar os seus textos.
Depois de em
1947 e 1948 ter publicado o “Anunciador das Feiras Novas”, coordena o “Elucidário
Regionalista de Ponte de Lima” que, com António Soares Correia, edita em 1950.
Em 1960 lança o seu livro, “Nas Horas Livres da Minha Profissão”, reunindo
inéditos a textos já anteriormente incluídos em diversos jornais, alguns dos
quais reformula.
De 1948 para 1949
empenhou-se na Campanha do General Norton de Matos à Presidência da República
e, após vinte e seis anos de corajosa resistência e persistente inconformismo,
assistiu, com profunda emoção, à implantação da democracia, intervindo, de
forma activa, na sua consolidação.
Augusto de
Castro e Sousa, como muito bem o retratou Luís Dantas, “esteve sempre aberto à
universalização, mas herdou o génio romântico no ardor das suas ideias, na
aventura da palavra escrita, no apego à música, na exaltação dos sentidos, no
viver emotivo e apaixonado...”. E foi com todos estes traços da sua
personalidade impoluta que nos deixou, a 17 de Janeiro de 1985, legando-nos as
obras e, principalmente, o exemplo.
Pode ser que
um dia destes nos surpreenda e deixe conhecer o antedito livro, para o qual
tinha reservado o título sugestivo de “Tartufos, Fouchés & Similares”.
(Versões do texto publicados em Figuras
Limianas, Município de Ponte de Lima, 2008 e Jornal Alto Minho, n.º 831, 21.01.2010)
2 comentários:
Recordo este grande Limiano que nos anos 60 manteve acesa polémica com o então presidente da Camara de P. Lima que era o Coronel Machado e que acabou com a saida da Câmara de sr. Coronel.
Esta polémica aparecia todas as semanas no jornal Republica.
Homem simples com uma cultura acima da média e era bem merecida uma homenagem nos 100 anos do seu nascimento.
Sr. Júlio Vilar Pereira Pinto, muito agradeço o seu comentário que nos traz mais um contributo para o conhecimento da figura de Augusto Castro e Sousa. Cumprimentos.
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