segunda-feira, 27 de abril de 2015

NO CENTENÁRIO DE AUGUSTO AMORIM DE CASTRO E SOUSA


NO CENTENÁRIO DE AUGUSTO DE CASTRO E SOUSA

     Foi em Braga, a 30 de Abril de 1915, que Augusto Amorim de Castro e Sousa nasceu. Seus pais, Eduardo de Castro e Sousa, bracarense e gráfico, e Laura Caldas de Amorim, ponte-limense e modista, habitualmente residentes em Ponte de Lima, estavam, então, a habitar naquela cidade.
     Em Ponte de Lima pronunciou as primeiras palavras, deu os passos iniciais e alinhou os estreados caracteres. Na escola teve como um dos seus professores Caetano de Oliveira, que recordou, em texto de 1959, como “o mestre amado, que mesmo depois de cego, ainda conseguiu levar a exame centenas de alunos com as mais altas classificações” e “ensinava não só a ler, escrever e contar, como a raciocinar”.
     Orientado pelo progenitor, proprietário de uma pequena oficina tipográfica e editor e director do jornal “Rio Lima”, começou a aprendizagem profissional e revelou os dotes jornalísticos. A sua inaugural colaboração na imprensa, no ano de 1931, está inserta nesse periódico, com o pseudónimo “Esparza”, e relata o jogo de futebol entre o Sport Clube Vianense e o Ponte de Lima Sport Club, realizado no dia de S. João.
   Em meados dos anos 30 rumou a Lisboa, onde aprofundou os conhecimentos, nomeadamente ao serviço da Tipografia Pinheiro & Dias, e reforçou o interesse pelas questões políticas, propiciadas pela sua formação no seio de uma classe progressiva, que tinha como uma das principais referências Alexandre Vieira, com quem desenvolveu constantes contactos e laços de amizade. 
     Regressou a Ponte de Lima, em 1947, e, a partir dessa data, aqui e daqui manteve intensa actividade, como gráfico e publicista com acentuadas preocupações sociais e culturais e participação directa em associações, de diversa natureza, integrando os corpos sociais de muitas delas. O seu nome está, por exemplo, ligado à institucionalização da banda de música de Ponte de Lima (Grupo de Cultura Musical), em 1951, e, como mestre, à Escola Tipográfica da Oficina de S. José.
    Utiliza, pelo menos, os nomes de “Augusto de Castro e Sousa”, “Augusto de Sousa”, “A. Castro e Sousa”, o acrónimo “A.C.S”. e os pseudónimos “Esparza”, “Repórter Visão”, “C.”, “A.C.” e “Cícero”, nas notícias para, entre outros, o “Cardeal Saraiva”, “Gazeta do Sul”, “O Jornal de Felgueiras”, “Cícero”,  “Os Ridículos”, “A Bola”, “Notícias da Amadora”, “A Aurora do Lima”, “República” e “Diário de Notícias” e com indignação viu por diversas vezes a censura retalhar os seus textos.
     Depois de em 1947 e 1948 ter publicado o “Anunciador das Feiras Novas”, coordena o “Elucidário Regionalista de Ponte de Lima” que, com António Soares Correia, edita em 1950. Em 1960 lança o seu livro, “Nas Horas Livres da Minha Profissão”, reunindo inéditos a textos já anteriormente incluídos em diversos jornais, alguns dos quais reformula.
     De 1948 para 1949 empenhou-se na Campanha do General Norton de Matos à Presidência da República e, após vinte e seis anos de corajosa resistência e persistente inconformismo, assistiu, com profunda emoção, à implantação da democracia, intervindo, de forma activa, na sua consolidação.
      Augusto de Castro e Sousa, como muito bem o retratou Luís Dantas, “esteve sempre aberto à universalização, mas herdou o génio romântico no ardor das suas ideias, na aventura da palavra escrita, no apego à música, na exaltação dos sentidos, no viver emotivo e apaixonado...”. E foi com todos estes traços da sua personalidade impoluta que nos deixou, a 17 de Janeiro de 1985, legando-nos as obras e, principalmente, o exemplo.
     Pode ser que um dia destes nos surpreenda e deixe conhecer o antedito livro, para o qual tinha reservado o título sugestivo de “Tartufos, Fouchés & Similares”. 


 (Versões do texto publicados em Figuras Limianas, Município de Ponte de Lima, 2008 e Jornal Alto Minho, n.º 831, 21.01.2010)

2 comentários:

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Recordo este grande Limiano que nos anos 60 manteve acesa polémica com o então presidente da Camara de P. Lima que era o Coronel Machado e que acabou com a saida da Câmara de sr. Coronel.
Esta polémica aparecia todas as semanas no jornal Republica.
Homem simples com uma cultura acima da média e era bem merecida uma homenagem nos 100 anos do seu nascimento.

José Sousa Vieira disse...

Sr. Júlio Vilar Pereira Pinto, muito agradeço o seu comentário que nos traz mais um contributo para o conhecimento da figura de Augusto Castro e Sousa. Cumprimentos.